• Empresas deram R$ 80 mi ao partido de Dilma, recorde em ano sem eleição
• Contratadas por União, Estados e municípios, as construtoras foram mais uma vez as líderes em contribuições
David Friedlander, Ricardo Mendonça – Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - Tradicionais doadoras de dinheiro para partidos políticos, empresas com negócios no setor público entregaram ao PT no ano passado quase o dobro do que pagaram a PSDB, PMDB e PSB juntos.
O partido da presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição, levou R$ 79,8 milhões. Os outros três conseguiram R$ 46,5 milhões.
A liderança do PT na captação já ocorria em anos anteriores, mas a diferença para os demais partidos não para de aumentar. A vantagem em relação às três siglas saltou em quatro anos de R$ 9,4 milhões para R$ 33,2 milhões.
O movimento ocorreu num período em que as contribuições empresariais bateram recorde para anos em que não há eleição, segundo as prestações de contas já divulgadas pela Justiça Eleitoral (em anos eleitorais, as verbas para os partidos são maiores).
As grandes construtoras, mais uma vez, dominaram o ranking dos maiores financiadores. Odebrecht, Queiroz Galvão, Camargo Corrêa e OAS foram as campeãs.
Todas elas fazem obras para o governo federal, Estados e municípios. Estão entre os maiores fornecedores da Petrobras. E ganharam concessões para explorar aeroportos, metrô e estradas.
As doações detalhadas nos gráficos ao lado foram feitas às claras, registradas. Empresas e partidos costumam dizer que elas são importantes para fortalecer as siglas. Apesar da justificativa legítima, é difícil encontrar quem fale abertamente do assunto.
Amigos do poder
Nos últimos dias, a Folha conversou com um consultor, um tesoureiro de partido, um empresário e dois executivos de construtoras. Eles só aceitaram falar anonimamente.
Segundo eles, é difícil não dar preferência ao PT, que ocupa a Presidência. Como Dilma estava muito à frente nas pesquisas, a força da sigla para captar era ampliada.
Caso a disputa presidencial fique mais acirrada, como sugerem as últimas pesquisas, a divisão de verbas tende a se equilibrar. "Quem trabalha com governo não tem preferência", diz um alto executivo de uma grande construtora. "Precisa ser amigo de quem estiver no poder."
Um consultor com muitos anos de experiência em arrecadação define assim: "Para as empresas, a doação funciona como um investimento para ter acesso aos candidatos que elas ajudam a eleger".
As últimas prestações revelaram uma diferença marcante no fluxo de contribuições. Até 2013, as grandes doações eram feitas apenas em época de campanha. Fora dos períodos eleitorais, as doações eram menores.
O cenário mudou em 2013 (ano não eleitoral) e os principais partidos passaram a receber bem mais do que antes. Profissionais envolvidos afirmam que alguns doadores foram convencidos a ampliar suas contribuições para ajudar a quitar dívidas das campanhas para prefeito de 2012.
Outros combinaram antecipar parte das doações programadas para este ano, para não chamar tanto a atenção nas prestações futuras.
Por fim, as doações também parecem maiores porque vários doadores teriam passado a contribuir legalmente. Motivo: o risco de ter o nome envolvido no submundo dos doleiros e do caixa dois parece cada vez maior.
As últimas prestações trouxeram uma curiosidade. Grandes construtoras, como a Galvão Engenharia e a OAS, passaram a contribuir mensalmente, algo que não ocorria antes. Procuradas, não quiseram explicar o motivo.
Colaborou Gabriela Terenzi, de São Paulo
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