- O Estado de S. Paulo
Previsões em política são sempre de alto risco, especialmente em tempos de campanha eleitoral, quando o chamado imponderável encarna um personagem de plantão a assustar candidatos e partidos. As pesquisas, nesse contexto, servem apenas de parâmetro a orientar as ações dos candidatos.
Com essa ressalva é possível afirmar que a fotografia do momento indica que a eleição presidencial deste ano tende a reproduzir a polarização entre PT e PSDB, não só pelos números, mas principalmente pela dificuldade do ex-governador Eduardo Campos em se firmar como a terceira via do processo.
É verdade que as convenções nacionais de PSDB e PT , que ocuparam as atenções da mídia, ajudam a reforçar essa impressão, mas esse também é um dado a agravar a situação de Campos, que não tem conseguido foco significativo para sua campanha.
É igualmente verdadeiro que os personagens impulsionadores das campanhas de PSDB e PT – os ex-presidentes Fernando Henrique e Lula -, atraem mais os holofotes do que a chapa do PSB, cujos integrantes buscam ainda maior visibilidade nacional.
Mas a campanha de Campos, mais presa ao conflito interno entre Rede e PSB, não estimula perspectivas de acerto a tempo de alcançar o concorrente oposicionista e a adversária governista. A campanha já está reduzida pelo calendário atípico que interpôs uma Copa do Mundo no caminho dos candidatos.
A ex-senadora Marina Silva tem sido alvo de críticas crescentes de integrantes do PSB que não concordam com seu poder de veto a alianças e nem com a isonomia de que desfruta no plano decisório da aliança.
Tal cenário inverte o fator de entusiasmo verificado quando ambos selaram a aliança, em que Marina representava Ícaro para o ex-governador, dando-lhes as asas para o voo eleitoral. O conflito instalado parece ter revestido as asas, não de cera, como na mitologia, mas de chumbo, impedindo a decolagem.
Um dos fatores que transformou Marina em peso foi acusado pelo presidente regional do PSB paulista, deputado Márcio França, ao registrar a transitoriedade da aliança. Afinal, tão logo acabe a eleição, Marina tratará de retomar o processo de registro formal de seu partido, hoje abrigado na sigla socialista.
Sua presença na aliança, portanto, pelo raciocínio de França, serve mais ao propósito de viabilizar a Rede do que de apoiar a vitória de Campos, prioridade anunciada no anúncio da chapa, como forma de interromper o ciclo do PT no poder.
De fato, a percepção geral é a de que o ex-governador se submete além dos limites às posições da companheira de chapa, no afâ de garantir a possível transferência de votos da ex-senadora, em detrimento de alianças regionais competitivas, vetadas por ela.
Assim, Marina usaria o PSB como cavalo de Tróia de sua Rede, que amanheceria após a eleição com uma distribuição territorial mais consistente do que teria no mapa político nacional. Campos seria ponte para uma travessia partidária, não um projeto duradouro.
A outra preocupação do ex-governador é também de natureza contábil: para preservar o eleitorado petista insatisfeito com Dilma hoje, ou órfão amanhã, ele ameniza a crítica ao PT, dissociando a presidente Dilma deste, no que é correspondido por Lula.
Para este último, a estratégia é boa. Para o PSB, discutível. Seria preciso que o desgaste de Dilma não guardasse vínculo com o partido que representa, o que não corresponde à realidade. Ambos andam juntos nas pesquisas que registram o declínio eleitoral do governo.
Sem historicidade no partido, Dilma sofre o desgaste eleitoral decorrente da perda de patrimônio político do PT. Não por acaso, o ex-presidente Lula anda preocupado com a imagem de corrupção da legenda, também explorada pelos adversários.
O comportamento do PT no poder, do qual o mensalão é o clímax, corroeu a imagem do partido a ponto de não reconhecer que sua atuação como oposição encontrou ampla guarida na mídia, por apontar os desvios dos governos anteriores.
O ex-presidente Lula adota agora como estratégia reativa a vitimização do partido, segundo ele, perseguido pela elite branca e pela imprensa, a requerer desta a mesma atitude com o partido enquanto governo.
Ainda que o PT tivesse cumprido, até aqui, uma trajetória imaculada nos 11 anos de poder, o eu não é absolutamente o caso, não seria lícito esperar uma imprensa acrítica, pois estaria renunciando ao seu papel fiscalizador e à única cumplicidade que lhe é honrosa: aquela com o cidadão.
Não houvesse desvios morais e legais, estaria o PT cumprindo com o dever da função pública de um partido político. Errado, portanto, esperar do cumprimento do dever uma leitura de virtude.
Lula recorre, portanto, mais uma vez, a bodes expiatórios para os maus resultados do partido, que o surpreenderam por se achar imune aos efeitos eleitorais dos desvios de rota. A Copa do Mundo, por exemplo, foi conquista programada para render frutos exatamente na época da reeleição de Dilma.
Mas teve efeito contrário, sete anos depois de o país ter sido escolhido país-sede, em que a negligência administrativa foi a tônica.
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