• Para cientistas políticos, candidatos terão que convencer o eleitor a votar
Carolina Benevides, Cássio Bruno, Juliana Castro, Leandra Lima e Marcelo Remígio – O Globo
RIO — Ainda que a corrida pelo Palácio Guanabara esteja acirrada, com candidatos tecnicamente empatados, a maioria — 57% — dos entrevistados pelo Ibope disse ter pouco ou nenhum interesse nas eleições deste ano. A pesquisa, encomendada pela Federação das Indústrias do Rio (Firjan), apontou ainda que 27% votariam em branco ou nulo, percentual maior do que o de qualquer candidato. Apenas para efeito de comparação, em São Paulo, pesquisa do Datafolha deste mês mostrou que 16% votariam em branco ou nulo.
Esse quadro no Rio, de acordo com cientistas políticos ouvidos pelo GLOBO, traz um desafio para as campanhas: convencer os eleitores a votar.
— Esse desinteresse reflete a insatisfação da sociedade com as instituições, a ideia de que quem está na política “não me representa” e é uma herança de junho de 2013. Nunca vi, desde 1982, percentuais tão altos de votos em branco e nulos e de desinteresse. O quadro aponta que os candidatos terão que convencer o eleitor a votar e mostrar a importância do voto. Se permanecer como está, aí ninguém saberá quem ganha — diz Paulo Baía, professor da UFRJ e cientista político.
Professor de Ciência Política da UFF, Eurico Figueiredo acredita que a pesquisa mostre “a crise de representação do sistema político brasileiro”, mas faz uma ressalva entre os que rejeitam o sistema e nem vão votar e aqueles que votam em branco ou nulo:
— Esse é o voto (em branco ou nulo) de discordância em relação aos candidatos e aos partidos. Mas acredito que isso se dê nacionalmente e não só no Rio, que historicamente tem em torno de 15% a 20% de votos em branco e nulos. Quando a campanha começar para valer, a tendência é que volte ao patamar histórico.
Ricardo Ismael, professor da PUC-Rio e cientista político, concorda com Figueiredo e diz que o desinteresse deve cair quando a campanha realmente tiver início:
— Depois da Copa, quando tivermos debates e horário eleitoral, a tendência é que mude. E a campanha só começa quando os candidatos estão definidos.
Sobre o fato de os três primeiros colocados — Anthony Garotinho (PR), Marcelo Crivella (PRB) e Luiz Fernando Pezão (PMDB) — estarem tecnicamente empatados e sobre a rejeição que entre os sete citados — Garotinho, Crivella, Pezão, Lindbergh Farias (PT), Cesar Maia (DEM), Miro Teixeira (PROS) e Tarcísio Motta (PSOL) — varia entre 32% e 6%, Paulo Baía lembra que a maioria é “figura pública visada, que já teve período de alta”.
— Quanto mais visível tiver sido o candidato no cotidiano das pessoas, maior a rejeição. Crivella nunca teve exposição relevante, foi senador e agora é um ministro que mal aparece. Isso pode explicar a rejeição menor do que a dos outros — diz Baía.
Garotinho reclama de pesquisa
À frente nas intenções de voto, Garotinho questionou ontem os percentuais.
— Querem levantar o Pezão, mas ganho de todos no 2° turno. O Ibope baixou meu índice vários pontos percentuais. Querem convencer que eu e Crivella estamos tecnicamente empatados.
Segundo colocado, Crivella disse não ter se surpreendido:
— Está como todas as pesquisas publicadas desde agosto de 2013. Achei o resultado muito bom e fico animado, sobretudo, e principalmente, por ser o pré-candidato com menor rejeição.
Por e-mail, o governador Pezão disse que ainda é pré-candidato e que, “mais adiante, no período eleitoral, vamos mostrar o legado da nossa administração, e a população poderá julgar e escolher o futuro com mais certeza”.
Procurado pelo GLOBO, Lindbergh não quis comentar o resultado. Mas o coordenador de sua campanha, o deputado federal Jorge Bittar, disse que a pesquisa não trouxe surpresa:
— Lindbergh está bem posicionado. O que vai contar mesmo serão as propagandas e os debates na TV.
A pesquisa ouviu 1.024 pessoas de 7 a 11 de junho. Está registrada no TRE-RJ com o número RJ-00006/2014; a margem de erro é de 3 pontos percentuais para mais ou para menos.
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