- Correio Braziliense
A reta final das articulações eleitorais, em meio aos jogos da Copa do Mundo, virou um salve-se quem puder. Quem mais sofre com a situação é a presidente Dilma Rousseff, com defecções na sua base de governo por causa dos crescentes conflitos nos estados entre o PT e seus aliados, principalmente o PMDB. O caso mais espetacular é o do Rio de Janeiro, onde instalou-se um verdadeiro vale-tudo entre dois dos principais partidos da coligação governista.
O senador Lindbergh Farias (PT), candidato ao governo fluminense, cedeu a vaga ao Senado para o deputado Romário (PSB), que apoia Eduardo Campos, o candidato de seu partido à Presidência. Em resposta, o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) desistiu da candidatura ao Senado e entregou sua vaga ao ex-prefeito carioca Cesar Maia (DEM), embarcando na candidatura de Aécio Neves (PSDB), embora o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) ainda diga que o seu palanque é de Dilma Rousseff (PT).
A reviravolta na política fluminense ocorreu depois de o deputado Miro Teixeira (Pros), apoiado por Eduardo Campos, desistir de sua candidatura a governador. Sem alternativa no estado, os socialistas decidiram dividir o palanque com os petistas. O PPS, que deveria apoiar Campos no estado, já estava aliado ao PSDB de Aécio e, com a decisão, deve embarcar de vez na candidatura de Pezão.
Nem o cronista carioca Stanislaw Ponte Preta, autor do fabuloso Febeapá (Festival de Besteira que Assola o País) e do Samba do Crioulo Doido, seria capaz de prever a repentina aliança de Cabral com o desafeto Cesar Maia, que dias antes havia espinafrado sua administração no programa de tevê do DEM. Quem mais está esperneando é o prefeito Eduardo Paes (PMDB) — criatura lançada por Maia na política, mas hoje rompida com o criador. Soltou nota criticando a aliança espúria e já está com um pé fora do PMDB, que é a quinta legenda à qual se filiou.
No Rio de Janeiro, o protagonismo do PMDB e do PT contrasta com a situação eleitoral desfavorável de seus candidatos. Segundo o Ibope, em pesquisa encomendada pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro e realizada entre 7 e 11 de junho, o pré-candidato do PR, o ex-governador Anthony Garotinho, lidera a disputa com 18% das intenções de voto. O senador e ex-ministro Marcelo Crivella (PRB) é seu principal concorrente, com 16%. Ambos são aliados de Dilma. Pezão tem 13% e Lindbergh, 11%. Em quinto, aparecia Cesar Maia (DEM), com 8%. Miro Teixeira (Pros), que desistiu da candidatura, e Tarcísio Motta (PSol) tinham 1% cada.
Esse vale-tudo eleitoral parece incomodar uma parcela expressiva dos eleitores do Rio de Janeiro. É alta a proporção dos que, a três meses e meio da eleição, pretendem votar em branco ou nulo: 27%. Não é à toa também que, à exceção de Crivella, todos os candidatos têm rejeição maior do que a intenção de voto. Garotinho está em primeiro, com 32% de entrevistados que não votariam nele em nenhuma hipótese. Cesar Maia é rejeitado por 24%; Pezão por 18%; e Lindbergh por 14%. Essa tendência também se reproduz em outros estados.
Sonháticos e pragmáticos
Com dificuldades para viabilizar palanques próprios no chamado Triângulo das Bermudas — Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais —, o candidato do PSB, Eduardo Campos, liberou a legenda para fazer o que quiser nos estados, desde que garanta espaço para sua campanha. O objetivo é não atrapalhar a eleição de senadores e deputados. Com isso, a construção de uma "terceira via" a partir de "alianças programáticas", como exigiam os "sonháticos" de Marina Silva, foi para o beleléu.
A guinada começou com a indicação do vice do governador tucano Geraldo Alckmin, em São Paulo, como queria o deputado federal Márcio França (PSB), candidato a vice na chapa tucana. O próximo passo será o apoio à candidatura de Pimenta da Veiga, do PSDB, em Minas, com a retirada do nome do deputado Júlio Delgado (PSB), em troca da manutenção do apoio do PSDB ao candidato a governador de Eduardo Campos em Pernambuco, o ex-secretário de Fazenda do estado Paulo Câmara. Os tucanos ameaçam lançar um candidato próprio, o deputado Daniel Coelho, se o PSB apresentar candidato em Minas.
Os conflitos entre "sonháticos" da Rede e os quadros históricos do PSB acabaram inviabilizando palanques alternativos para a dupla Eduardo Campos e Marina Silva. É o caso do Tocantins, onde Marina Silva apoia o procurador licenciado Mario Lúcio Avelar (PPS), mas o PSB fechou com o grupo do ex-governador Siqueira Campos, que renunciou ao mandato e apoia o governador biônico Sandoval Cardoso (SDD), eleito pela Assembléia Legislativa, que concorrerá a reeleição. Às vésperas de completar 86 anos, Siqueira controla o estado desde sua fundação, há 25 anos, e tem conexões em todos os partidos, a ponto de o PMDB intervir na seção regional para garantir a candidatura da senadora Kátia Abreu ao governo.
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