• PT tenta recuperar terreno onde sua rejeição é maior
- Valor Econômico
No fim do ciclo das convenções, o PT identifica no Estado de São Paulo a maior ameaça a dois de seus principais projetos eleitorais neste ano: reeleger a presidente Dilma Rousseff e interromper a sequência de quase 20 anos de governos do PSDB no Palácio dos Bandeirantes.
É um dos piores momentos do PT em São Paulo, onde se concentram 22% dos eleitores do país. Quase um quarto do total. A rejeição da presidente, no Estado, é recorde, segundo as pesquisas. Nas simulações de segundo turno, ela perderia até de Eduardo Campos (PSB), o terceiro colocado na corrida presidencial. O candidato ao governo, o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha, mal chega aos 5% das intenções de voto.
Dirigentes petistas tentam decifrar o fenômeno e descobrir como enfrentá-lo. O problema seria a falta de investimentos federais em São Paulo? Não, a contabilidade do governo federal indicaria que eles são defensáveis. Foi o mensalão? Também não porque, em meio a quase um semestre inteiro de julgamento da Ação Penal 470, em 2012, o partido venceu as eleições para as principais cidades.
Não foi o mensalão, só. Mas a questão ético-moral é preponderante no estado de espírito dos paulistas em relação ao PT, conforme registram as pesquisas feitas para o uso partidário.
Pesou muito mais a prisão de vistosos dirigentes do PT, como o ex-ministro José Dirceu e o ex-deputado José Genoino. Os dois já comandaram o partido; foram presidentes do PT e candidatos ao governo de São Paulo. Somem-se a isso os escândalos na Petrobras, o doleiro Alberto Youssef e relações perigosas com a facção criminosa PCC.
Na conta do desgaste do PT em São Paulo entra também Fernando Haddad, um prefeito que não chegou a se firmar.
Depois de um fim de semana de reuniões, após a convenção que sacramentou o nome de Dilma à reeleição, dirigentes petistas concordaram que é necessário estabelecer um diálogo entre as campanhas da presidente e do ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha. Uma agenda comum será elaborada, e Dilma reforçará sua presença em São Paulo - sem candidato a presidente da República pela primeira vez desde a redemocratização, o Estado virou território da disputa de PT, PSDB e PSB.
O discurso para São Paulo não é o de mais investimentos federais, segundo as campanhas, mas moral e ético. Estuda-se a apresentação de um projeto de desenvolvimento econômico-social para o Estado.
Trata-se de uma agenda a ser cumprida já agora, no que o PT chama de "travessia do deserto", o período que vai do início de julho até o início da propaganda eleitoral no rádio e na televisão. Não se espera que Padilha cresça nas pesquisas durante esse intervalo; acredita-se que Dilma pelo menos se estabilize, conforme sugerem pesquisas internas.
Devido às circunstâncias, uma nova data foi acrescentada ao calendário eleitoral: 13 de julho, o dia seguinte ao jogo final da Copa do Mundo. O partido reagirá à ação dos adversários, mas prepara-se para o que já é chamado de "a ressaca da Copa".
No núcleo duro das duas campanhas espera-se por uma reversão de expectativa em relação à Copa do Mundo. O raciocínio: nos últimos meses foi disseminada a impressão de que a organização da Copa seria um desastre, nada daria certo. E isso contaminou o humor da opinião pública, especialmente a de São Paulo, que já não era das melhores em relação à presidente, ao prefeito da capital e ao PT.
A pergunta a ser respondida é: se a Copa for um sucesso, o mau humor da opinião pública em relação ao PT, à presidente da República e a seu candidato em São Paulo vai mudar? E se a seleção brasileira não for campeã? As campanhas preparam-se para as duas hipóteses, embora a torcida seja para que a eventual mudança de humor se reflita na avaliação que o eleitor no momento faz do partido.
Se a conjuntura evoluir de acordo com o panorama visto da ponte petista, há um vasto espaço a ser preenchido por seus candidatos em São Paulo.
O patrimônio do PT é de 25% entre os eleitores que declaram preferência partidária no Estado. Na capital esse percentual é maior, estimado em um terço dos eleitores. Pelo menos 45% dos paulistas moram em cidades governadas pelo PT, prefeitos escolhidos nas eleições de 2012.
O PT levou São Paulo, São Bernardo do Campo, Santo André, Mauá, Guarulhos, Osasco, São José dos Campos, entre outras - cidades que representam cerca 60% do PIB de São Paulo. Não é pouca coisa. Sobretudo quando se leva em conta que Padilha é um desconhecido, não chega a 25% o índice de paulistas que já ouviram falar dele, segundo as pesquisas do PT.
O PT também levou seus candidatos para o segundo turno nas três últimas eleições para o governo de São Paulo. Na última delas, em 2010, o hoje ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, teve mais de 35% dos votos e por pouco não vai ao segundo turno com o PSDB.
Na campanha de Padilha já não há dúvida: Dilma precisa de uma candidatura forte do PT em São Paulo. O empresário Paulo Skaf (PMDB) é um fenômeno passageiro porque disputou a última eleição para governador e passou os últimos quatro anos em evidência com o uso do Sistema S, trincheira que usou para combater o governo federal na batalha pela a prorrogação do imposto do cheque - e na cidade de São Paulo, contra a proposta de aumento do IPTU.
A equação da presidente em São Paulo é complexa: ter um candidato forte do PT ao governo do Estado e cuidar de Paulo Skaf, candidato do vice Michel Temer e nome que pode apoiar no segundo turno, e de Geraldo Alckmin. Não são poucos os palanques Dilma-Alckmin que se formaram no interior.
As candidaturas da presidente Dilma Rousseff e Alexandre Padilha são indissociáveis, além de suas afinidades eletivas. A presidente precisa virar o jogo e ter um bom desempenho em São Paulo. Do contrário, não bastará uma boa vitória no Nordeste, uma vez que ela deve perder em Minas Gerais (o segundo maior colégio eleitoral) e no Rio de Janeiro, como demonstram as alianças locais de última hora, não é confiável.
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