• Após quase 20 anos de gestão, tucanos tentam manter Estado sob seu comando em meio à crise hídrica
Ricardo Chapola Ricardo Brandt e Valmar Hupsel Filho – O Estado de S. Paulo
A política paulista poderia ser resumida numa máxima, dados os resultados eleitorais: “a campanha pelo Palácio dos Bandeirantes é aquela disputa entre políticos em que o PSDB ganha no final”.
Já são quase 20 anos de governo, cinco eleições vencidas, as últimas duas sem precisar de 2.º turno. Os tucanos admitem, porém, que estão agora diante da mais difícil missão desde que Mário Covas venceu Francisco Rossi em 1994. Não só pelo natural desgaste do longo tempo no poder, mas também em razão de problemas da administração, como a ameaça de falta d’água nas torneiras dos paulistas.
As pesquisas apontam atualmente uma ampla vantagem do governador Geraldo Alckmin (PSDB). A configuração dos palanques nas últimas semanas, após acordos de última hora, entretanto, elevaram o empresário Paulo Skaf (PMDB) à condição de adversário de peso, com o maior tempo de TV entre os concorrentes. Além disso, ele tem um perfil conservador, algo que costuma agradar aos eleitores do Estado, em especial os do interior.
No PT, partido que tem polarizado a disputa com os tucanos nas últimas três eleições, a situação não é das melhores. O ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha, nova aposta eleitoral do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, perdeu aliados, teve o tempo de TV reduzido e enfrenta certo desânimo entre os correligionários.
Na avaliação dos petistas, Lula não tem mostrado tanto empenho por Padilha, uma vez que Skaf é do PMDB, principal aliado do projeto reeleitoral de Dilma Rousseff. A própria presidente já disse aos peemedebistas: não importa quem estará no 2.º turno, Padilha ou Skaf, o importante é ganhar dos tucanos em seu principal reduto, maior colégio eleitoral do País, com cerca de 32 milhões de pessoas aptas a votar.
São Paulo também é alvo de outros candidatos à Presidência da República, especialmente do tucano Aécio Neves, que escolheu um vice do Estado, o senador Aloysio Nunes Ferreira, para “amarrar” o partido e tentar conquistar uma ampla vantagem sobre Dilma e o presidenciável do PSB, Eduardo Campos, e assim garantir sua ida ao 2.º turno da disputa. Aécio vai criar uma espécie de campanha paralela em São Paulo, pois sabe que Alckmin estará concentrado em seu projeto de reeleição.
Aécio tem um histórico de desentendimentos com os tucanos paulistas. Foi acusado por aliados de Alckmin e de José Serra de não se empenhar em Minas, seu Estado, quando eles disputaram a Presidência da República – Serra em 2002 e 2010 e Alckmin em 2006.
Temas centrais. Padilha – que depois de Dilma e do prefeito paulistano, Fernando Haddad, passou a ser chamado de terceiro “poste” de Lula – e Skaf adotaram a “mudança de verdade” como mote. A coincidência de slogan causou até atrito entre os candidatos. Primeiramente ele foi usado pelo PT. Depois os peemedebistas decidiram adotá-lo também.
Os discursos também devem coincidir no que se refere às críticas ao governo tucano. O tema preferencial é a falta d’água nas represas do Sistema Cantareira, que abastece boa parte de São Paulo. Alckmin diz que o problema é climático – não choveu o que deveria ter chovido. Os adversários afirmam que faltaram, além de chuva, planejamento e investimentos no setor.
Outra área a ser explorada tanto por Skaf quanto por Padilha é a de transportes. Ambos apontam o ritmo lento da expansão das linhas do Metrô. Alckmin, por sua vez, argumenta que nunca se investiu tanto em transporte sobre trilhos e que há oito grandes obras em andamento que só não foram entregues porque são projetos de longo prazo. Ele justifica os atrasos citando greves de operários, problemas na emissão de licença ambiental pela Prefeitura de São Paulo e questões técnicas e geológicas nas escavações.
O setor metroferroviário paulista também pode ser vidraça por causa das denúncias sobre o cartel de trens que atuou no Estado durante os governos tucanos. O Ministério Público aponta acertos entre empresas que teriam causado danos milionários aos cofres públicos paulistas. Também acusa altos funcionários das estatais responsáveis pelos serviços de receber propinas das multinacionais.
Dois ex-secretários de Alckmin, Rodrigo Garcia e José Aníbal, são investigados sob suspeita de envolvimento com o cartel. Ambos negam veementemente qualquer ligação com o esquema de acertos. Alckmin afirma que o governo tomou todas as providências para lidar com o caso, pedindo punição das empresas na Justiça e realizando investigações internas para apurar envolvimento de funcionários públicos.
Disputa paralela. A disputa pela vaga que cabe a São Paulo no Senado Federal promete ser tão acirrada quanto pelo comando do Palácio dos Bandeirantes. De um lado Eduardo Suplicy, petista que está há três mandatos consecutivos no cargo, desde 1990. De outro, Serra, ex-prefeito da capital e ex-governador do Estado.
Há ainda um terceiro nome com potencial de competitividade, o ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD). Kassab só se lançou ao Senado porque achava que Serra, seu padrinho político – foi vice do tucano no município –, não iria disputar a cadeira. Serra, porém, decidiu na última hora buscar a vaga que hoje é de Suplicy após ter sinalizado que seria candidato à Câmara dos Deputados. Mesmo pressionado por ver um aliado como futuro adversário, Kassab, que diz ter sido pego de surpresa, decidiu se manter no páreo.
A situação de Kassab retrata, de certa forma, a confusão de alianças que costuma marcar as eleições brasileiras. Ele é aliado de Serra, que será seu rival. Seu partido, o PSD, é aliado de Dilma no plano federal, e de Skaf, adversário dos petistas paulistas, no plano estadual. Resta saber para quem ele vai pedir voto.
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