- Valor Econômico
A eleição presidencial deste ano intriga os analistas pela maior imprevisibilidade em relação às disputas anteriores, que se deram num cenário de tons contrastantes, mais preto no branco. Em 1994 e 1998, Fernando Henrique Cardoso era pule de dez, pelo foguete eleitoral que foi o Plano Real. Em 2002, o clima de mudança era tanto que Luiz Inácio Lula da Silva, então a figura mais notável da oposição, caiu finalmente nas graças do eleitorado, depois de três derrotas consecutivas. Em 2006, na reeleição de Lula, e 2010, com Dilma Rousseff, a sucessora, o desejo pela manutenção do governo prevaleceu.
Agora, não. O cenário é bem mais cinzento. A popularidade da presidente nem é tão alta, a ponto de refletir um clima de continuidade, mas também nem tão baixa, a ponto de disseminar um desejo de ruptura. A eleição deste ano se encaixa numa terceira categoria, a de mudança com continuidade - ou continuidade com mudança - que torna o ambiente bem mais incerto e competitivo.
É assim que o especialista da consultoria Ipsos nos Estados Unidos, Clifford Young, classifica a corrida presidencial no Brasil. Baseado num banco de dados com 260 eleições realizadas em mais de 35 países, Young desenvolveu um modelo simples no qual tenta prever resultados a partir do cruzamento de apenas dois indicadores: a taxa de aprovação do presidente e o tipo de candidato governista, se é o próprio mandatário que busca a reeleição ou se é um sucessor.
A taxa de aprovação tem se consagrado como um dos fatores cruciais para antecipar as chances dos candidatos. Reflete o humor do eleitorado e se este votará na situação (continuidade) ou na oposição (mudança). Importa mais do que outras variáveis, como a identificação partidária, uma vez que a adesão a determinada legenda não está imune ao desempenho de governo. Há casos de ex-tucanos que passaram a votar no "PT completo", para todos os cargos, depois do desencanto com o PSDB e a chegada de Lula ao poder federal, em 2003. Do mesmo modo, simpatizantes do PT podem deixar de sê-lo, caso o partido não corresponda às expectativas. O declínio na preferência pelo PT, aliás, foi apontado recentemente em pesquisa Datafolha.
De acordo com os números levantados por Clifford Young, quando a taxa de aprovação do presidente é maior do que 55%, a eleição é de continuidade. Quando é menor do que 39%, reflete um clima de mudança. E quando está entre 40% e 54%, significa que a disputa se dará numa zona intermediária (middling). É neste caso que se encontra a corrida ao Planalto.
Dilma, pelo último Ibope, é aprovada por 44% dos eleitores.
A probabilidade de vitória, no entanto, varia substancialmente de acordo com o tipo de concorrente governista. Em média, um candidato à reeleição tem 2,6 vezes mais chance de ganhar do que se, no seu lugar, estivesse um apadrinhado político. Se o candidato do governo fosse um sucessor - como Dilma em relação a Lula em 2010 - ele já estaria praticamente derrotado. Sua chance de vencer seria de, no máximo, 14%. Mas como é Dilma a candidata governista, a probabilidade de vitória estaria hoje entre 58% (equivalente à taxa de aprovação de 40%) e 78% (taxa de 45%).
Vale lembrar que não se trata de avaliação de governo, medida de popularidade mais divulgada no Brasil e alvo de estudo semelhante feito pelo cientista político Alberto Almeida. A aprovação - pela qual os eleitores apontam se acham o governo ótimo, bom, regular, ruim ou péssimo - é menos utilizada em outros países e, por isso, seria menos indicada para comparações internacionais, afirma Young.
O especialista da Ipsos diz que o instituto dispõe de pesquisas em que Dilma teria uma aprovação menor do que a aferida pelo Ibope. O índice da presidente estaria mais perto de 40% do que de 45%. "Diria que a probabilidade de vitória [de Dilma] é de 58%", estima Clifford Young, presidente da área de opinião pública da Ipsos nos Estados Unidos e diretor internacional da área de eleições.
Por outro lado, o consultor pondera que a aprovação do presidente costuma melhorar, com o início da campanha e a exposição dos feitos do governo. Pelo retrospecto das eleições no Brasil desde 1998, esse aumento seria, em média, de 2,5%. Com isso, Dilma tende a se aproximar de uma taxa de 45% de aprovação. "Pode parecer pouco. Mas vai ser uma campanha de centímetros. Um ou dois pontos percentuais vão importar", afirma. Nesse patamar de popularidade, a probabilidade de vitória para um candidato à reeleição é de 78%.
Young prevê que a disputa presidencial será decidida no segundo turno e com vantagem mais estreita para o vencedor, como geralmente ocorre nos Estados Unidos. "Em 70% das eleições, variáveis políticas como a qualidade da campanha e o uso da máquina não importam. Tudo se resume a se a opinião pública está otimista ou pessimista. Mas nas outras 30%, de eleições realmente disputadas, como esta, os fatores políticos são decisivos", conclui.
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