• Ex-senadora decide não subir em palanque de quem ela não apoia e coloca assessor de confiança nas finanças
Simone Iglesias, Cristiane Jungblut e Catarina Alencastro – O Globo
BRASÍLIA - Após uma série de reuniões que começou às 8h e se estendeu até a noite, o PSB oficializou ontem a chapa de Marina Silva à Presidência da República, tendo o deputado Beto Albuquerque (RS) como vice. Depois de muito debate entre Marina e a cúpula do PSB, ela conseguiu evitar a obrigação de subir em palanques e apoiar candidatos a governos estaduais com os quais não tem afinidade política, como em São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Além disso, emplacou na tesouraria da campanha seu assessor de maior confiança, Bazileu Margarido, e na coordenação, o deputado Walter Feldman.
- Quando conversamos pela primeira vez, acertamos que, onde não fosse possível o acordo, o PSB teria as suas escolhas, e a Rede, as suas. Nesse momento, permanece o mesmo enquadre (sic) que fizemos. Não há mudança. Eu continuo preservada de acordo com o que havíamos combinado - explicou Marina.
Encerradas as negociações, Marina disse que a palavra de ordem agora é tratar "com generosidade" as diferenças e ampliar os pontos de unidade da chapa. Para ela, o programa elaborado com Eduardo Campos é o eixo dessa união. A candidata, no entanto, deixou claro que seguirá lutando pelo registro do partido que tenta criar desde o ano passado, a Rede Sustentabilidade. Segundo Marina, independentemente do que ocorrer na eleição, a Rede e o PSB são "irmãos". Em clara sinalização de que está aberta ao diálogo com Dilma Rousseff e Aécio Neves, Marina disse que só foram ao velório de Eduardo pessoas de bem.
- No entorno do seu caixão, não estava a Velha República. Os que estavam lá, mesmo com divergências, deram contribuição de alguma forma, avançaram em conquistas econômicas, com o fim da inflação, conquista da inclusão social. Teremos a disposição de dialogar com o Brasil - ressaltou.
Partido redigiu carta
A candidata recebeu de Roberto Amaral, presidente do PSB, uma carta de seis páginas na qual a direção do partido diz que "superaremos eventuais divergências e repudiaremos interesses menores; nosso guia é o interesse maior da coletividade". O partido pediu ainda que os compromissos firmados por Campos sejam mantidos. Para o PSB, os "novos fatos impõem a reiteração dos compromissos já pactuados e a discussão de entendimentos e novos compromissos".
Ao fim do discurso, Marina foi aplaudida, com gritos de "Eduardo presente; Marina presidente!". Emocionada, a candidata elogiou a forma como Roberto Amaral conduziu o processo de definição da nova chapa. Ao discursar, o presidente da legenda disse que Marina Silva e Beto Albuquerque levarão a campanha do partido e de Eduardo Campos adiante.
- Marina e o nosso deputado Beto Albuquerque e seus militantes levarão a bom termo essa candidatura. Vão assumir a bandeira do PSB. Tenho certeza de que Arraes está batendo palma - disse Amaral, referindo-se a Miguel Arraes, avô de Eduardo Campos e maior expoente do partido, que morreu em 2005.
O vice Beto Albuquerque destacou o fato de a chapa ter sido aprovada por unanimidade.
- Serei vice-presidente junto com Marina para consumarmos esse desejo majoritário da população de mudar. Marina-Eduardo espelhava a esperança concreta da nova política. Vamos mudar a forma de fazer a política. Temos 46 dias para trabalhar. Não vamos olhar para o retrovisor. Queremos dizer, com alegria, vamos dar a volta por cima, honrar o legado de Eduardo.
O anúncio da chapa, previsto para as 15h, só ocorreu depois das 20h. Além das homenagens a Campos, o debate que consumiu boa parte do dia foi em torno das finanças da campanha. Marina recebeu um "inventário" com todas as despesas feitas até o momento, os gastos previstos e os financiadores. Segundo participantes do encontro, o desafio agora é manter a captação de receitas. Marina remanejou Bazileu Margarido, que era coordenador-geral da campanha, para a coordenação financeira. A ideia é manter o controle, já que a cabeça de chapa passa a ser de Marina, e ela responderá pela prestação de contas juridicamente. Além disso, a Rede tem restrições a vários tipos de doadores, como empresas de bebidas alcoólicas, tabaco, armas, fertilizantes, entre outros. No lugar de Bazileu, assume o deputado Walter Feldman (PSB-SP), que compartilhará com o secretário-geral do PSB, Carlos Siqueira, a coordenação-geral da campanha.
A primeira mudança, já prevista para ocorrer na semana que vem, é a logística da campanha. Aliados da candidata disseram que ela fará boa parte das viagens em aviões de carreira, como em 2010, e que só usará jatos quando tiver que ir a lugares de difícil acesso por voos comerciais.
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