- O Estado de S. Paulo
Fala-se muito em modelos esgotados na política. Aos sistemas partidário e eleitoral, à maneira de o Poder Executivo construir maioria no Parlamento sem risco de exagero podemos acrescentar a propaganda eleitoral no rádio e na televisão.
Quem acredita naquilo? O nome já diz: é publicidade e, como tal, tem o objetivo de vender um produto, apresentando suas qualidades não necessariamente verdadeiras. Com a desvantagem em relação aos bens de consumo imediato, que não podem ser descartados com facilidade quando não aprovados.
Ali os especialistas no ramo enquadram candidatos às fórmulas da melhor comunicação dos respectivos recados. Submetem os eleitores a 45 dias de exposição e isso na maior parte das vezes acaba dando resultado, daí a luta por minutos, segundos a mais no horário eleitoral. Um efeito meramente publicitário.
Quem embrulha melhor a mercadoria chama mais a atenção do eleitor. Nem sempre isso acontece com quem dispõe de mais tempo. Exemplo clássico, a eleição de 1989. Ulysses Guimarães, do PMDB, contava com extenso espaço, mas terminou com ínfima votação.
Fernando Collor, do minúsculo PRN, soube manejar os instrumentos de marketing, vendeu meia dúzia de ilusões conduzidas pela ideia-força do "caçador de marajás" e a adesão da maioria àquela mistificação fez o resto no segundo turno contra Luiz Inácio da Silva.
Descontados os refrões de jingles bem bolados e imagens especialmente marcantes, dificilmente alguém sabe dizer de memória o que viu no horário eleitoral.
O ritmo de vídeoclipe, os recursos mais ou menos iguais dos candidatos que contam com mais recursos, a citação enfadonha de números que o cidadão não sabe se verdadeiros ou falsos, o palavrório de autoexaltação podem servir para firmar empatia com esse (a) ou aquele (a) concorrente, mas não se presta ao que seria importante para o dono do voto: o conhecimento real das razões da escolha no dia da eleição.
De conteúdo mesmo não sobra nada de um horário pago pelo contribuinte na forma de renúncia fiscal às emissoras e que necessariamente deveria ser utilizado como espaço de convencimento de fato.
Não necessariamente com exposição cansativa de propostas e programas, mas com diálogo maduro, questionamentos adultos e determinação de conquistar o voto pela discussão sólida de conteúdo, deixando em segundo plano a irrelevância da forma das belas violas.
Palanque livre. Mantendo-se a decisão de Marina Silva de não fazer campanha junto com os candidatos à reeleição aos governos dos Estados de São Paulo e Paraná, os tucanos Geraldo Alckmin e Beto Richa, o candidato do PSDB, Aécio Neves, é quem tem motivos para comemorar.
Eduardo Campos havia fechado acordo com os dois e em algum momento teria agenda com eles. Aécio precisaria, assim, dividir espaço com o PSB. Pela nova configuração, não terá a concorrência de outra candidatura presidencial.
Atropelo. Foi clara a tática empregada pela presidente Dilma Rousseff na entrevista do Jornal Nacional: falar o máximo possível a fim de proporcionar a abordagem do mínimo de temas na extensa e óbvia pauta de assuntos embaraçosos.
Não houve tempo, por exemplo, para os entrevistadores falarem sobre a crise na Petrobrás nem para perguntarem a origem dos R$ 156 mil que a presidente declarou guardar em casa.
Dilma recusou-se a comentar a posição do PT diante das condenações no processo do mensalão, alegando que como presidente não poderia emitir opiniões que pudessem colocá-la em "confronto" com o Supremo Tribunal Federal.
Primeiro, a pergunta era sobre o partido e, depois, o julgamento é página virada. Portanto, a presidente na realidade quis evitar conflito de um lado com o PT e, de outro, com o eleitorado.
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