Fernando Taquari – Valor Econômico
SÃO PAULO - Escolhido por Aécio Neves para coordenar o programa de governo do PSDB, o ex-deputado Arnaldo Madeira aposta que a falta de experiência no Executivo será o principal obstáculo da candidatura presidencial da ex-senadora Marina Silva (PSB). O eleitor, segundo o tucano, tem senso de responsabilidade e na hora do voto optará por Aécio por conta de sua "exitosa" passagem pelo governo de Minas Gerais.
A despeito da última pesquisa Datafolha, que mostra Aécio e Marina tecnicamente empatados, Madeira afirma que a ex-senadora não representa uma ameaça ao tucano, pois apresenta ao eleitor um discurso sem "sustentabilidade". Além disso, ressalta que nesta eleição não há insatisfações internas no PSDB que poderiam dar margem para falta de empenho entre os tucanos, como ocorreu no passado. A seguir a entrevista:
Valor: O que muda na eleição presidencial com a entrada da ex-senadora Marina Silva (PSB) na disputa?
Arnaldo Madeira: Você passa a ter, além da presidente Dilma (Rousseff), uma segunda candidata (Marina) com um nível de conhecimento generalizado. Ela já foi candidata à Presidência. O Eduardo (Campos) estava num processo de se tornar conhecido nacionalmente. O desconhecimento dele era maior do que o do Aécio. Com essa tragédia, o Eduardo assume imediatamente uma dimensão nacional. Agora Marina parte com uma intenção de votos elevada nas pesquisas, embora eu ache que cada campanha é diferente da outra. Não tem essa coisa de voto fixo. Uma parte das pessoas que já votou nela, vota de novo, e outra não vota mais.
Valor: A Marina ameaça o segundo lugar de Aécio no segundo turno?
Madeira: Não. As pesquisas refletem o momento. A Marina tem um grande problema: sua experiência de gestão é muito frágil. Ela nunca teve um cargo de comando no Executivo. Terá que superar esse obstáculo para dizer que pode governar um país dessa complexidade com a experiência política que ela tem, que é limitada. A nosso favor está o fato de sermos um partido inserido no nível nacional, com uma imagem forte em segmentos da classe média e um candidato que é jovem e passou por uma experiência de governo excepcional em Minas Gerias. Isso nos dá um diferencial, num momento em que o Brasil dá sinais de problemas de gestão.
Valor: O eleitor pode se convencer de que esse é um diferencial da candidatura do Aécio?
Madeira: Tudo depende da forma. O eleitor, ao contrário do que as pessoas pensam, tem um senso de responsabilidade. Quando chegar lá na frente ele vai pensar quem é que pode governar melhor o país. Nosso ponto de partida é muito bom para ir para o segundo turno e ganhar a eleição. Estamos propondo ao país regras claras, que não sejam mudadas ao sabor da conveniência. O setor empresarial está assustado com isso. A segurança para o desenvolvimento exige transparência.
Valor: Aécio pretende polarizar com Marina?
Madeira: Não creio. Com o governo federal podemos fazer comparações de gestões. Com a Marina, não tem o que comparar. Não sei muito onde é que vamos enfrentar a Marina. As pessoas que estão em volta dela não são pessoas do novo. Esse negócio do novo é uma promessa que não tem muita sustentabilidade.
Valor: Divisões internas e acusações de falta de empenho prejudicaram o desempenho dos presidenciáveis do PSDB nas eleições de 2002, 2006 e 2010? Por que neste ano pode ser diferente?
Madeira: Aqui em São Paulo estou vendo o partido fortemente unido. Vejo o partido integrado nas campanhas de (José) Serra, Aécio e Geraldo (Alckmin). Eu não estou vendo neste ano insatisfações internas que levariam as pessoas a uma falta de empenho. Por outro lado, há uma clara percepção de que o modelo PT de gestão se esgotou. Os problemas estão espalhados. O setor elétrico passa por uma crise enorme, as obras de infraestrutura não saem. O governo da Dilma tem um dos piores desempenhos na economia na história republicana.
Valor: O PSDB ainda aparece muito mal nas pesquisas no Nordeste. Como avançar na conquista do eleitor da região nesses próximos 40 dias de campanha?
Madeira: Na semana do acidente com o Eduardo, o Aécio passou três dias no Nordeste. Ele está fazendo articulações e buscando apoios que deem maior sustentação à sua candidatura. Os acordos e as alianças vão ajudar nesse processo. No Ceará, por exemplo, o Tasso Jereissati (PSDB) voltou a se colocar como candidato ao Senado para ser senador, mas também ajudar nossa campanha nacional. Dilma também prometeu para o Nordeste muito mais do que entregou. As pessoas percebem isso. A transposição do rio São Francisco foi prometida e não saiu. Em cada lugar há coisas prometidas que não saíram.
Valor: O PT colou no PSDB a imagem de ser um partido elitista. Por que a dificuldade em exorcizar esse estigma?
Madeira: Como nós somos os principais adversários, eles focaram muito em cima do que é o PSDB. Nós não podemos ignorar que temos forte simpatia das classes médias nas grandes cidades, no Sul, no Sudeste. Mas esse estigma que o PT tenta passar é uma arma de comunicação política. A postura deles é de uma profunda desonestidade intelectual. A privatização da Petrobras, por exemplo, nunca esteve no horizonte da pauta do governo FHC. Não obstante, eles dizem que sim.
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