A emergência da candidatura de Marina Silva – beneficiada pela comoção popular com a morte de Eduardo Campos e pela rápida atração de grande parte dos votos nulos e de indecisos – mudou substancialmente as tendências da disputa presidencial neste início do horário “gratuito”. Tendências evidenciadas na manchete da Folha, de anteontem, sobre os dados de pesquisa extraordinária feita pelo seu braço especializado: “Marina empata com Aécio no 1º turno e com Dilma no 2º”. É que poderão manter-se em pesquisas seguintes, ou enfraquecer-se ao se reduzir o peso de tal comoção, bem como por causa das contradições e da fragilidade das alianças e dos palanques da nova candidata do PSB. Mas com um efeito que tornou inevitável a realização do 2º turno.
Essa mudança do cenário eleitoral se dá num contexto de persistência e agravamento dos problemas macro e microeconômicos e do pessimismo do conjunto dos atores do mercado. Sentimento resumido em declaração recente do empresário Benjamim Steinbruch, presidente da CSN e substituto de Paulo Skaf no comando do Fiesp: “Só louco investe hoje no Brasil”. E tal contexto poderá ganhar cores ainda mais sombrias no próximo dia 29, quando o IBGE divulgará balanço do comportamento da economia no segundo trimestre, com prováveis números indicativos de recessão (queda em dois trimestres consecutivos, pois a do segundo deverá implicar rebaixamento a menos de zero da minúscula expansão de 0,2% atribuída antes ao primeiro). O que constituirá um fator, adicional, para uma retomada da predominância da agenda político-econômica (em lugar da em emocional, gerada por aquela comoção), na fase decisiva das disputas eleitorais para os finalistas do embate pelo Palácio do Planalto, para os governos dos estados e para a composição, também relevante, do próximo Congresso Nacional.
Quanto à campanha de Marina – a ser oficializada hoje pelas direções do PSB e dos partidos aliados – os próximos dias vão esclarecer se ela caminhará pa-ra assumir o pragmatismo de Campos na montagem de alianças e na convergência com a de Aécio Neves na crítica e em propostas de alternativas à política econômica do governo Dilma, ou se tratará de distinguir-se dos dois concorrentes com um discurso ético-religioso contra a “classe política” e de conteúdo antimercado (com reiteração de suas antigas restrições às atividades do agronegócio e a empreendimentos como os da construção de usinas hidrelétricas). Outra postura de Marina, esta no plano político-institucional, que mudará ou não (e será positivo se mudar) e a do apoio que explicitou a criação dos “conselhos sociais”, bolivarianos, proposta do PT assumida pela presidente Dilma.
Quanto ao papel da presidente/candidata no debate dos problemas e das perspectivas da economia, as respostas que deu aos questionamentos a respeito, que lhe foram feitos na entrevista de anteontem ao Jornal Nacional da Globo, anteciparam seu discurso básico no horário “gratuito”. Ela empenhou-se em defender a política em vigor, a partir dos “ganhos sociais” dos governos Lula e do seu. Desqualificou os diversos indicadores de queda dos investimentos e de estagnação das várias atividades produtivas, atribuindo os problemas que teve de reconhecer à crise internacional e ao “pessimismo” de setores do mercado. E prometeu solucioná-los num segundo mandato. Ou seja, a economia está bem e vai melhorar com uma vitória dela.
Por seu turno, a campanha de Aécio – para a passagem ao 2º turno, com ou sem proximidade com a de Marina, nesse terreno, e para o provável embate final com a de Dilma Rousseff – dependerá da capa-cidade de oferecer respostas consistentes e realistas a esses problemas, ligando-os aos seus efeitos inflacionários, de estreitamento do mercado de trabalho e nas áreas de saúde, criminalidade, educação, mobilidade urbana. De afirmar-se – o que até agora não conseguiu – como a alternativa de um presidente com as condições de assegurar uma gestão eficiente, com o desmonte do custoso gigantismo e do corrupto aparelhamento partidário da máquina federal, de transparente e bem sucedida articulação com o Congresso. E, assim, capaz de trocar por uma pauta favorável ao desenvolvimento econômico, político e social a agenda populista, de menosprezo do pluralismo democrático e de paralisia do crescimento econômico. Agenda que vem sendo imposta ao Brasil nos últimos anos.
Jarbas de Holanda é jornalista
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