• Denúncias se aproximam da classe política a dias de início do segundo mandato
Leonardo Guandeline - O Globo
SÃO PAULO — Analistas ouvidos pelo GLOBO disseram que a divulgação da lista com políticos que teriam envolvimento na corrupção da Petrobras provoca um dos momentos mais tensos politicamente antes de uma posse presidencial. Os cientistas políticos falam em desgaste da classe política, em todas as correntes. Para alguns dos especialistas, os nomes citados devem ficar sob os holofotes durante todo o início da nova gestão de Dilma Rousseff, causando um prolongamento da tensão já iniciada nas eleições.
O cientista político Fábio Wanderley Reis, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), acredita que o momento reflete “o terceiro turno que o Brasil vive desde o fim das eleições”, com o país dividido e o aumento da troca de farpas entre governistas e opositores:
— A repercussão (para a classe política) obviamente é negativa. Há uma tensão continuada desde as eleições e que prevalece num momento da inauguração de um novo mandato. Temos um caso singular, negativo, nunca visto na História recente brasileira no momento que antecede a posse.
Mesmo com a maioria de políticos citados pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa pertencendo à base governista, o cientista político faz questão de lembrar que o ex-senador Sérgio Guerra (PSDB), já morto, também está na lista e que a conta não deve ser paga apenas pelo governo.
— O nome do Sérgio Guerra está lá. É uma figura importante, já foi presidente do PSDB, ainda que o número de opositores citados seja reduzido — conclui.
Para o cientista político da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) Fernando Antonio de Azevedo, o escândalo “atinge frontalmente a classe política” e coloca o Brasil num dos momentos politicamente mais delicados antes de uma posse presidencial. O professor cita como episódios políticos tensos da História recente brasileira antes de um novo governo o golpe preventivo, em 1955, do então ministro da Guerra, Henrique Lott, para garantir a posse de Juscelino Kubitschek e a transição da ditadura para a democracia, em 1985.
— É um grande desgaste para a classe política. Os políticos supostamente envolvidos pertencem a várias siglas, há o nome de um ex-presidente do principal partido de oposição. Acredito que esses nomes devem ser denunciados e que, pelo menos até metade do mandato de Dilma, estarão sob os holofotes da mídia, que deve cobrir todo o processo.
O professor acredita também que a nova legislatura terá de discutir urgentemente o financiamento de campanhas eleitorais.
Já o professor Cláudio Couto, da Fundação Getulio Vargas de São Paulo (FGV-SP), fala em tensão política para o próximo mandato, não em instabilidade para a classe. Ele acrescenta que até o momento não há provas contra os nomes citados por Paulo Roberto Costa:
— Temos que aguardar para ver o que vai aparecer de mais consistente. Não existe ainda alguma evidência mais clara, são afirmações mais genéricas. Além do desconforto que isso causa a esses nomes, não vejo uma consequência mais séria no momento. Creio num momento de tensão, mas não de instabilidade política.
Couto complementa dizendo que é necessário aguardar um pouco mais os desdobramentos do caso:
— A lógica da delação premiada é sempre a de apresentar indícios que levem a descobertas. Eventualmente, há a apresentação de provas cabais. O desdobramento natural da deleção, uma vez apresentados os indícios, é de se investigar se aquilo é ou não verdade. Caso contrário, o benefício sequer é auferido. Temos de aguardar um pouco mais os desdobramentos.
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