- O Globo
A prévia da inflação de dezembro ficou um pouco acima do que se esperava, mas confirma a possibilidade de o índice do ano fechar abaixo do limite máximo. O alívio será curto, porque em janeiro os cálculos são de novo estouro do teto. A carga tributária do país foi recorde, mas o governo termina 2014 com piora das contas públicas. Ontem saíram números também ruins do balanço externo.
O déficit em transações correntes chegou ao recorde de 4% do PIB acumulado em 12 meses até novembro. Um rombo de US$ 88 bilhões, que, pelo 21º mês consecutivo, segundo a consultoria Rosenberg Associados, já não é mais coberto por Investimento Estrangeiro Direto, que ficou em US$ 62,3 bilhões. Isso aumenta a fragilidade da economia brasileira em um contexto de fortalecimento do dólar no mundo, com a recuperação americana e a expectativa de alta dos juros pelo Fed. Só em novembro o rombo da conta-corrente foi de quase US$ 10 bilhões, recorde para o mês. O agravamento dessa conta aconteceu pelo péssimo resultado da balança comercial no mês, que foi negativo em US$ 2,4 bilhões.
A economia brasileira está acumulando uma coleção nociva de desequilíbrios. Há déficit nominal das contas públicas, déficit primário, déficit em transações correntes, e até a balança comercial fechará no vermelho.
O problema das contas públicas é mais difícil de resolver do que o dos problemas externos. O ambiente cambial está hostil, com muita volatilidade, o que acaba atingindo principalmente as moedas dos países emergentes que têm algum tipo de vulnerabilidade. É o caso do Brasil. Mas, de qualquer maneira, o país tem o colchão das reservas cambiais, que chegam a quase US$ 400 bilhões, e ainda tem atraído capital estrangeiro, apesar de não ser em nível suficiente para cobrir o rombo na conta das transações correntes.
Outra dificuldade é a da inflação. O último número do ano deve ficar em torno de 0,80%, no IPCA final do mês de dezembro, o que levará o índice do ano a ficar em 6,45%, abaixo do teto, mas muito acima do que deveria, pela meta de 4,5%. O preço da energia vai bater pesadamente em janeiro. E neste caso não é apenas a má sorte da falta de chuvas em 2014. A energia sobe porque agora vai começar a chegar a conta dos erros cometidos desde a MP 579.
O governo adiou para 2015 o início do sistema de bandeiras tarifárias que eleva o preço quando se usa mais as térmicas que as hidrelétricas, e depois teoricamente reduz o preço quando a situação hídrica é favorável. Além disso, há R$ 18 bilhões de empréstimos concedidos às distribuidoras que serão repassados ao consumidor, com os devidos juros e encargos. Essa conta será dividida em três anos. Até o final de 2017 o país estará pagando o gasto contratado quando se decidiu fazer populismo tarifário em 2013. A MP que desequilibrou o setor elétrico foi formatada de encomenda para ser usada como parte da campanha eleitoral. Nem isso o governo conseguiu, porque a queda do preço foi anulada pelos reajustes que foram aprovados para evitar desequilíbrios maiores nas empresas distribuidoras. Todo o sistema está uma confusão. Basta ver a dívida que a Eletrobrás não consegue pagar à Petrobras pelo fornecimento de combustível para as térmicas.
O ano não terminou, mas o governo está com sua coleção de números negativos só aumentando, e esses são os dados que a presidente Dilma herdará para o seu segundo mandato. Eles vão continuar a aparecer, confirmando que a próxima equipe econômica terá muito trabalho para pôr a casa em ordem.
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