- Folha de S. Paulo
Uma cena chamou a atenção de quem passou pelo encontro da cúpula do PT na última semana, em Fortaleza. No saguão do hotel, o tesoureiro João Vaccari distribuía vales a quem desejava almoçar às custas do partido. A imagem ilustra sua tarefa desde que assumiu o cargo, em 2010. Ele é o principal responsável por arrecadar e repassar o dinheiro que alimenta campanhas petistas em todo o país.
Investigadores da Polícia Federal acreditam que essa dieta foi vitaminada com recursos desviados da Petrobras. As suspeitas ganham força a cada vez que um preso aceita falar em troca de redução da pena que deverá cumprir na cadeia.
O ex-diretor Paulo Roberto Costa, que cobrava propina de fornecedores da estatal, e o doleiro Alberto Youssef, que enviava o dinheiro sujo ao exterior, vinculam Vaccari ao esquema. De acordo com eles, o tesoureiro recolhia pedágio de 2% a 3% do valor de cada contrato. Na outra ponta, executivos das empreiteiras corruptoras afirmam que o petista os procurava para pedir contribuições ao caixa da legenda.
Na última quarta (3), veio à tona uma novidade. O empresário Augusto Ribeiro de Mendonça Neto contou em juízo que era orientado a pagar propina em forma de "doações oficiais ao Partido dos Trabalhadores". Se o relato for comprovado, estaremos diante de uma solução criativa para o crime de caixa dois: a corrupção no caixa um, com envio de recibo à Justiça Eleitoral.
Vaccari tem se esquivado de dar explicações. Nega as acusações por escrito, mas foge de entrevistas e conta com a tropa do governo para não ter que depor no Congresso.
O PT deveria esclarecer a participação de seu secretário de finanças no escândalo --que já ameaça a imagem da presidente, como mostra a nova pesquisa Datafolha. Tratá-lo como vítima e continuar a comer em sua mão, como fizeram seus dirigentes em Fortaleza, pode ser uma escolha mais arriscada.
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