• Ano será de "grandes batalhas" para consertar economia
- Valor Econômico
O compromisso do Banco Central para 2015 é o de evitar que a inflação passe de 6,5% e fure o teto da meta. Para 2016 o objetivo é levar a inflação para a meta de 4,5%. É com esse mandato que a autoridade monetária trabalha.
O BC não espera conseguir ancorar a expectativa de inflação à meta agora, mas acredita que poderá chegar a obter a ancoragem no médio prazo.
A área econômica do novo governo, escolhida e anunciada mas ainda não empossada, vê os próximos dois anos como um período "duro", de "grandes batalhas", para desfazer os erros cometidos nos últimos três anos. O mergulho nas contas do setor público mostra uma cara feia. Vai se tentar jogar para este ano o máximo de despesa possível para que a nova equipe do Ministério da Fazenda possa começar 2015 com um Orçamento um pouco mais "limpo" dos truques reincidentes.
O aporte de mais R$ 30 bilhões no BNDES, conforme a espantosa medida provisória editada na quarta feira, é parte de um derradeiro baile, embora não esteja claro como se fará um "tapering" do banco de desenvolvimento compatível com o cronograma de desembolsos já contratados.
As pressões inflacionárias são grandes para o início do próximo ano, com reajustes de preços administrados como tarifas de ônibus e energia elétrica. Entra em vigor a bandeira tarifária, que adequará o preço da energia às condições da geração de eletricidade. Com uma provável redução gradativa do programa de leilões de swaps cambiais, a taxa de câmbio voltaria a ser flutuante e eventual desvalorização reforça as pressões sobre os preços.
O ano de 2015 será de ajuste, de desmontagem do que um dia foi chamado de "nova matriz econômica" para se tentar, no governo, viabilizar um 2016 melhor. As expectativas de várias casas financeiras são de inflação superior a 7% no fim do primeiro semestre e algo não menor do que o teto no fim do próximo exercício. O crescimento será bastante modesto. Para efeito da nova Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2015, divulgada ontem, o crescimento do PIB é estimado em 0,8% no ano que vem, 2% em 2016 e 2,3% em 2017.
O Banco Central vê o aumento das pressões sobre os preços como um fato mais conjuntural do que estrutural, ligado à correção dos equívocos dos últimos anos que levaram o governo ao descontrole fiscal e ao represamento de preços administrados.
Essa seria uma das razões para a autoridade monetária acreditar que não é tarefa impossível trazer a inflação próxima ao teto da meta de 6,5% no fim de 2015 para 4,5% em 2016. Para isso, conta ainda com uma nova política fiscal com metas para serem cumpridas, transparência e de função contracionista.
Avalia-se, no governo, que será possível atravessar, nos próximos meses, um processo semelhante ao que ocorreu em 2011/2012. Em agosto de 2011 o Comitê de Política Monetária (Copom), que vinha subindo a Selic, deu um "cavalo de pau" e começou a reduzir os juros. Esses saíram de 12,50% ao ano e pararam em 7,25% ao ano em outubro de 2012, ficando estacionados nesse patamar até abril de 2013.
A inflação, medida pela variação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), encerrou o primeiro ano do governo Dilma Rousseff exatamente no teto de 6,5%. Mesmo com as taxas de juros em queda, mas em função das defasagens dos efeitos da política monetária, a inflação foi cedendo até chegar a 4,92% em junho. Em seguida começou novamente a descarrilhar por choques de oferta decorrentes de problemas climáticos, encerrando o ano em alta de 5,84%. Ainda assim, os juros caíram até outubro daquele ano para 7,25% e aí ficaram por sete meses.
Naquele período, porém, as condições eram bem distintas de agora. O mundo -em particular a zona do euro - estava indo para o fundo do poço e a política fiscal doméstica era bem mais razoável, dentre várias outras diferenças.
A ancoragem das expectativas, na atual perspectiva, não ocorrerá em um curto espaço de tempo, mas ao longo da evolução da trajetória de queda futura da inflação. Vai depender, portanto, da confiança e da credibilidade que o Copom for adquirindo na medida dos resultados da desinflação.
Nesse sentido, o comunicado do Copom de quarta feira em pouco ou nada ajudou. A taxa Selic subiu 0,50 ponto percentual, de 11,25% para 11,75% ao ano. O comitê acelerou o passo, como era esperado. O problema foram os senões do comunicado: "O Copom decidiu, por unanimidade, intensificar, neste momento, o ajuste da taxa Selic e elevá-la em 0,50 p.p., para 11,75% a.a., sem viés", diz o primeiro parágrafo, e continua: "Considerando os efeitos cumulativos e defasados da política monetária, entre outros fatores, o Comitê avalia que o esforço adicional de política monetária tende a ser implementado com parcimônia".
Ao indicar com "neste momento" e "parcimônia" que o ciclo de aperto monetário, nessa sua fase pós eleitoral, pode ser curto e menor do que se supunha, o mercado reagiu mal: ontem houve queda da taxa curta e aumento da longa, em um movimento que retrata a crença de que o Banco Central continuará sempre "atrás da curva". Isso praticamente anulou o efeito da elevação dos juros, reagiram fontes do mercado.
As interpretações do comunicado serviram para retirar do cenário a hipótese de elevações mais intensas da taxa Selic, de 0,75 ponto percentual, que começava a tomar corpo. Agora a dúvida é se o próximo passo será aumento de 0,50 ponto percentual ou de 0,25 p.p.
Na economia, portanto, os sinais para 2015 são de inflação alta - a última vez que a inflação no país ficou próxima da meta foi em 2009, quando o IPCA foi de 4,31% - e crescimento baixo, tornando mais penoso o ajuste fiscal, que não deve poupar alguns gastos sociais, como abono salarial e seguro-desemprego. Isso sem mencionar as dificuldades políticas deste governo e a imprevisibilidade do "petrolão".
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