• Haverá pressões, no segundo mandato, para retrocessos, e, se a presidente fraquejar, manchará de vez sua biografia como administradora pública
Anunciado Joaquim Levy como o próximo ministro da Fazenda, o jornal inglês “Financial Times”, em editorial, lembrou uma das inúmeras frases irônicas de Winston Churchill em que o primeiro-ministro britânico brincava com os nativos da ex-colônia: “os americanos sempre fazem a coisa certa, depois de tentar exaustivamente todas as outras alternativas”. De acordo com o FT, o mesmo pode ser dito sobre o Brasil.
Depois de quatro anos de experimentos econômicos delirantes, aconteceu o previsto: inflação elevada, em torno do limite superior da meta de 4,5%; déficit externo, algo inexistente há mais de década; economia estagnada e contas públicas muito desequilibradas — com um déficit nominal na faixa dos 5% do PIB e dívida pública passando dos 60%.
Tentadas suas alternativas, Dilma Roussef, diante do fracasso, resolveu nomear Levy, economista chamado de “ortodoxo” porque acha que a política fiscal precisa ser responsável e o Banco Central não pode fraquejar diante da inflação. Participou da primeira equipe econômica da Era PT, a partir de 2003, contratada por Lula para um trabalho também “ortodoxo”. Deu certo, como esperado. Consideradas as devidas diferenças, volta o PT a necessitar de um ajuste (“ortodoxo”), depois de ter jogado fora parte do que foi conquistado no primeiro mandato de Lula.
No momento, ocorre a bizarra convivência do velho com o novo sob o comando de Dilma. O velho é representado pelo mais violento golpe de contabilidade criativa desferido nesses quatro anos, por meio da flexibilização absurda da LDO. Na prática, revogou-se a Lei de Responsabilidade Fiscal em relação a 2014. Como se houvesse pressa para se cometer todas as heterodoxias antes de assumir a nova equipe econômica, transferiu-se mais R$ 30 bilhões do Tesouro, provenientes de endividamento público, ao BNDES, um tipo de operação condenada por Levy na primeira entrevista como ministro indicado.
O novo, em termos de economia, está esboçado no compromisso dos futuros ministro econômicos — Levy e Nelson Barbosa, do Planejamento — de um ajuste fiscal e de seriedade na apresentação das contas públicas, incluindo o fim da relação incestuosa entre Tesouro e bancos oficiais, à margem do Orçamento.
Há, ainda, mais um aumento dos juros, de 0,5 ponto, para 11,75%, aceno do Banco Central de Alexandre Tombini de que se alinha aos tempos de seriedade no combate à inflação. Deve esperar ansioso a ajuda, neste combate, do lado fiscal — inexistente no primeiro mandato de Dilma.
O velho e o novo se chocarão durante no segundo mandato, o velho representado pelos radicais do PT e aliados fisiológicos. Dilma precisará ter claro na mente que seu governo, a partir de 1º de janeiro, dependerá das suas convicções no acerto da guinada que dá na política econômica. Se fraquejar, manchará definitivamente a biografia de administradora pública.
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