- O Globo
Devemos aplaudir o gesto sincero do governo de rever suas previsões para a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) do próximo ano, mas não há como não ficar preocupado com os números "realistas" com que a nova equipe econômica se compromete. O primeiro governo Dilma, que parece não ter fim, foi caracterizado, entre outras coisas, pelas previsões otimistas que acabaram sempre atropeladas pela realidade.
Agora mesmo, o governo alterou sua previsão de crescimento deste ano na economia, passando de 2% para 0,8%, aproximando-se da previsão do mercado, que é de 0,77%, mas com viés de baixa. O que está sendo considerado o primeiro passo concreto para tentar resgatar a credibilidade da política fiscal é também o reconhecimento de que todas as medidas impopulares que vierem a ser tomadas - e os juros já aumentaram duas vezes desde que as urnas se fecharam - não serão suficientes para recolocar o país no caminho do crescimento.
Se tudo der certo, e o segundo governo Dilma acontecer conforme as previsões oficiais, teremos nadado, nadado, para chegar ao mesmo lugar em que estamos hoje, provavelmente com as contas mais equilibradas, mas sem condições de crescimento do PIB compatível com nossas necessidades.
A economia brasileira medida pelo PIB (Produto Interno Bruto) cresceu 2,3% em 2013, depois de uma expansão de 1% em 2012 e de 2,7% em 2011, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Nos três primeiros anos da presidente Dilma Rousseff, portanto, o crescimento médio foi de 2%. Com a previsão de crescimento de 0,2% este ano, a média cai para 1,55%.
Com as novas previsões "realistas" enviadas ao Congresso ontem pelo Ministério do Planejamento, o PIB terá uma alta de 0,8% em 2015, corrigindo os números otimistas com que o governo vem trabalhando, pois na LDO que está no Congresso esse índice é de 3%. Para 2016, o novo texto projeta o crescimento econômico do país em 2%, e em 2,3% para 2017.
Se, por hipótese, conseguir crescer no mesmo ritmo no último ano do governo, terá fechado seu segundo mandato com uma média de crescimento do PIB um pouco melhor que a anterior, de 1,85%. E os oito anos do governo Dilma terão tido uma média de crescimento de 1,7%, o que o colocará, de acordo com um ranking elaborado pelo professor Reinaldo Gonçalves, da Faculdade de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, entre os três piores governos republicanos até hoje, desde Deodoro da Fonseca.
Ele classifica os que tiveram crescimento do PIB abaixo de 2,3% como os piores: além dos governos com queda do PIB nos mandatos, Collor (-1,3%) e Floriano Peixoto (-7,5%), compõem a lista Dilma (cerca de 1,7%) e Venceslau Brás (2,1%). Em termos de comparação, governos "medíocres" foram aqueles que tiveram crescimento do PIB entre 2,3% (Fernando Henrique) e 3,1% (Campos Salles). Entre eles estão Afonso Pena (2,5%) e João Figueiredo (2,4%).
Na avaliação do crescimento da renda durante os governos do PT, o professor classifica de "fraco desempenho pelo padrão histórico brasileiro". A taxa secular de crescimento médio real do PIB brasileiro no período republicano é 4,5%, a mediana é 4,7%.
Tudo isso, é claro, se a presidente Dilma não fizer como Lula, que aproveitou o ano eleitoral de 2010 para desatar todos os controles da economia e provocar um crescimento do PIB de 7,5% para eleger Dilma sua sucessora. O resultado dessa gastança, estamos vendo até hoje. Pode acontecer de novo em 2018, para favorecer uma improvável candidatura de Lula, ou turbinar o candidato petista, seja ele quem for.
Anistia
A possibilidade de a presidente Dilma vir a decretar uma anistia natalina a condenados pelo mensalão, de tão absurda, deve ser desconsiderada. Caso contrário, estaríamos diante de uma presidente que abusa de suas prerrogativas para favorecer companheiros de partido condenados por desvio de dinheiro público.
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