• Segundo a estatal, e-mail de ex-gerente com denúncia foi enviado em novembro
• Em comunicados anteriores, companhia não havia negado ter recebido informações de funcionária
Pedro Soares, Samantha Lima - Folha de S. Paulo
RIO - Em nota enviada à CVM (Comissão de Valores Mobiliários) na noite da segunda-feira (15), a Petrobras decidiu desmentir, pela primeira vez, a acusação de omissão às denúncias de desvios feitas pela funcionária Venina Velosa da Fonseca à presidente da estatal, Graça Foster.
O jornal "Valor Econômico" revelou que a ex-gerente da companhia advertiu a atual diretoria sobre uma série de irregularidades em contratos da empresa muito antes do início da Operação Lava Jato, da Polícia Federal.
Segundo a reportagem, Venina enviou e-mails a Graça em 2009, 2011 e 2014.
A divulgação das mensagens fez com que auxiliares da presidente Dilma Rousseff pressionassem pela demissão de Graça e do restante da cúpula da empresa.
A primeira reação da Petrobras ocorreu por meio de uma nota, divulgada na noite de quinta-feira (11), em que a empresa se limitava a dizer que havia tomado providências para investigar os desvios na construção da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, e na contratação de combustíveis para navios, dois dos temas citados nos e-mails de Venina e que foram revelados pelo "Valor".
Em um dos e-mails, Venina teria pedido ajuda a Graça para redigir um texto sobre problemas na estatal, quando verificou escalada de preços em serviços. No segundo, ela falava em "esquartejamento de licitações sem aparente eficiência". No último, de 20 de novembro deste ano, teria falado em esquema de desvios.
A repercussão das denúncias levou a Petrobras a divulgar uma segunda nota, na sexta-feira, na qual a empresa questionou o fato de a funcionária ter feito a denúncia somente cinco anos depois de ter detectado problemas.
Afirmou ainda que Venina havia ameaçado fazer a denúncia para tentar manter-se no cargo de gerente da estatal. O intuito era tentar desqualificar as denúncias da funcionária, segundo a Folha apurou. A empresa, nesta segunda nota, novamente não negou o recebimento nem o conteúdo das mensagens que teriam sido enviadas por Venina.
A CVM, então, questionou a Petrobras sobre as denúncias de Venina. Na resposta à comissão, distribuída à imprensa na madrugada desta terça, a Petrobras afirmou que quatro mensagens enviadas pela ex-gerente a Foster --em abril de 2009, em agosto e outubro de 2011 e em fevereiro de 2012-- "não explicitaram irregularidades" relacionadas à refinaria de Abreu e Lima, à área de comunicação de uma das diretorias e à área de comercialização de combustível de navio.
De acordo com a Petrobras, os temas foram levados ao conhecimento de Graça apenas em mensagem de 20 de novembro, após a destituição de Venina de sua função gerencial. No dia 19 de novembro, ela perdeu o cargo na unidade da estatal em Cingapura, onde estava desde 2010.
"Nesta data, as irregularidades [...] já haviam sido objeto de averiguação em comissões internas de apuração, bem como as irregularidades da área de comercialização de combustível de navio, em grupos de trabalho", diz a nota.
A Petrobras não revelou o teor das mensagens enviadas pela funcionária.
Nos bastidores, funcionários da estatal disseram que o desmentido levou quatro dias para ser feito porque a Petrobras estava buscando, nos sistemas da companhia, as mensagens trocadas entre Venina e Graça.
Venina foi destituída depois da função de gerente depois que uma comissão da Petrobras investigou, neste ano, denúncias de irregularidades na construção da refinaria Abreu e Lima. Ela foi apontada como um dos onze responsáveis pelo aumento no custo da obra em R$ 4 bilhões.
Como gerente da área do abastecimento, subordinada de Paulo Roberto Costa, Venina assinou todos os projetos de licitações das grandes obras de Abreu e Lima.
A Folha esteve diversas vezes no endereço de Venina, no Rio, mas ela não retornou.
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