quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Gasto de estatais com publicidade cresce 65%

• Empresas controladas pelo governo federal investiram em propaganda R$ 16 bilhões no período entre 2000 e 2013

• Relação de veículos de comunicação que receberam verbas só foi liberada após ação movida pela Folha

BRASÍLIA - As empresas estatais controladas pelo governo federal aumentaram em 65% seus gastos com publicidade de 2000 a 2013, já descontada a inflação, alcançando no ano passado um desembolso recorde de R$ 1,48 bilhão.

A despesa total das estatais com publicidade atingiu R$ 15,7 bilhões nesses 14 anos. A Petrobras, a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil responderam por 86% do investimento total.

Os valores foram corrigidos pelo IGP-M, índice de preços da Fundação Getúlio Vargas. Eles não incluem gastos das estatais com patrocínio cultural e esportivo.

O dinheiro foi destinado à promoção dessas empresas em TVs, rádios, jornais, revistas e internet. As estatais representam fatia significativa da despesa total do governo federal com publicidade.

Como a Folha revelou em abril, o governo federal despendeu R$ 2,3 bilhões com propaganda no ano passado, um recorde. As estatais foram responsáveis por 64%. Os R$ 800 milhões restantes foram gastos pela Presidência da República e pelos ministérios.

Esta é a primeira vez que o governo divulga informações detalhadas sobre gastos das estatais. Os dados só foram liberados por causa de uma decisão do Superior Tribunal de Justiça, que deu ganho de causa a uma ação movida pela Folha e pelo jornalista Fernando Rodrigues, do UOL, empresa do Grupo Folha.

Para manter sob sigilo essas despesas, a Secom (Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República) alegava que sua divulgação prejudicaria as empresas estatais na negociação com os veículos de comunicação dos valores pagos pelos anúncios.

Os dispêndios das estatais com publicidade cresceram quase todos os anos. Houve redução em 2002, último ano do governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), em 2003, primeiro ano do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e 2007, quando teve início seu segundo mandato.

No governo da presidente Dilma Rousseff, houve uma pequena retração em 2011, primeiro ano de seu mandato, e um salto a partir de 2012.

Os dados mostram ainda que houve uma pulverização dos veículos que recebem propaganda das estatais, seguindo orientação dos governos do PT de buscar maior penetração em internet e mídia regional. Eles saltaram de 4.398 em 2000 para 10.817.

O governo diz que seu objetivo é levar a mensagem oficial ao maior número de brasileiros, e que a audiência dos veículos é o critério principal para distribuição das verbas.

Grupos
Os maiores grupos de comunicação do país aparecem entre as que mais receberam publicidade das estatais. A Secom liberou dados sobre 10 mil veículos de comunicação, sem indicar o setor em que atuam, o que dificulta a análise dos gastos e sua separação por grupo empresarial.

No topo da lista aparece a Rádio Globo de São Paulo, que recebeu R$ 4,2 bilhões nesses 14 anos. De acordo com a Secom, a maior parte desse dinheiro foi usada para pagar anúncios veiculados pela Rede Globo de Televisão.

Em seguida vêm a TV Record (R$ 1,3 bilhão), o SBT (R$ 1,2 bilhão) e a Bandeirantes (R$ 1 bilhão). O primeiro grupo da lista de empresas que não tem TV como seu principal negócio é a Abril, que recebeu R$ 298 milhões das estatais, seguida pela Editora Globo, com R$ 248 milhões.

A Empresa Folha da Manhã, que edita a Folha e o jornal "Agora São Paulo", aparece em 11º lugar na lista, com R$ 206 milhões. Em seguida vem o jornal "O Estado de S. Paulo", com R$ 188 milhões.

O UOL, que pertence ao Grupo Folha, aparece em primeiro lugar na lista dos portais de internet, com R$ 45 milhões em publicidade.

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