- Folha de S. Paulo
Alguém usou a rede de internet do Palácio do Planalto para alterar verbetes de políticos e de jornalistas na Wikipédia, a enciclopédia colaborativa on-line cujos textos podem ser editados livremente.
Ontem (8), o repórter Paulo Celso Pereira revelou que os jornalistas Miriam Leitão e Carlos Alberto Sardenberg foram alvo dessas alterações. Seus perfis foram enxertados com críticas, ataques e mentiras sobre o trabalho que exercem.
O vandalismo cibernético praticado dentro da Presidência é incompatível com os valores republicanos. Há algo de muito errado num ambiente estatal no qual alguém se sente à vontade para fazer ataques a jornalistas. A pessoa que teve a "ideia" de entrar na Wikipédia (se é que foi uma iniciativa isolada) sentia-se, com certeza, tranquila ao agir dessa forma.
Mas há outro ângulo menos político, porém não menos relevante: a incapacidade gerencial do governo. O Planalto soltou uma nota informando ser "tecnicamente impossível identificar os responsáveis". Os conteúdos da rede de internet da Presidência, "até julho deste ano, eram arquivados por no máximo seis meses". Como o vandalismo ocorreu em maio de 2013, nada poderia ser feito para achar o vândalo. Ponto final.
Essa explicação é raquítica perto da magnitude do fato. Como é possível a Presidência da República da 7ª (ou 6ª ou 8ª) economia do mundo não guardar registros de seus computadores por mais de seis meses? Se o perfil de Dilma Rousseff na Wikipédia fosse adulterado, a presidente aceitaria a desculpa do Planalto?
Arquivar tais dados custa quase nada. A incompetência dos responsáveis por apagar as informações será averiguada? No final do dia, o governo recuou e disse que iria investigar. Como, ninguém sabe.
Na sua nota, o Planalto diz que "a liberdade de imprensa é um dos pilares da nossa democracia". Falar é fácil. Difícil é promover esse tipo de valor dentro da administração.
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