• Em meio a uma grave crise, empresa anuncia que vai cortar investimentos e desacelerar projetos para evitar aumentar as dívidas
Fernanda Nunes, Antonio Pita, André Magnabosco - O Estado de S. Paulo
A Petrobrás vai mudar de tamanho. Com o rombo provocado pelo esquema de corrupção denunciado na Operação Lava Jato, da Polícia Federal, e também por causa da crise por que passam petroleiras em todo o mundo, com a queda no preço do petróleo, a estatal decidiu que vai reduzir a atividade de exploração de petróleo “ao mínimo necessário”, segundo a presidente da empresa, Graça Foster. A companhia vai cortar investimentos, desacelerar projetos e ser seletiva na aquisição de novas áreas de exploração e produção.
“O mote do Plano de Negócios para 2015 e depois é o redimensionamento da Petrobrás”, afirmou a executiva – em entrevista para explicar o balanço –, antecipando as premissas do documento que só será divulgado em junho. O esforço da companhia é para evitar novas captações e dívidas nos próximos anos, diante da falta de credibilidade no mercado, e evitar uma piora em seus indicadores de alavancagem (relação entre a dívida e o patrimônio), que chegou a 43% – ante uma meta definida de 35% pelo conselho de administração.
A desconfiança dos investidores em relação à companhia – em dois dias, as ações preferenciais caíram cerca de 13% –, poderá se agravar ainda mais após a possibilidade levantada pelo diretor financeiro, Almir Barbassa, de não haver pagamento de dividendos referentes a 2014. Segundo ele, ainda não se trabalha com a hipótese, mas ela poderá ser utilizada a depender da “situação da companhia”. “Se uma companhia julga que há situação de estresse financeiro, há a possibilidade de não haver pagamento.”
São três os cenários analisados pelo diretor. Caso a empresa não registre lucro em 2014, automaticamente, não será pago o dividendo. Se houver lucro, poderá registrar o dividendo, mas adiar o seu pagamento. Ou ainda, mesmo com o lucro, não distribuí-lo aos acionistas e fazer uma reserva especial para retribuir os investidores quando a condição financeira for mais favorável.
O grande desafio para a companhia, neste momento, é conseguir mensurar o estrago que a corrupção causou no seu patrimônio. Na quarta-feira, a empresa divulgou ter encontrado um rombo potencial de R$ 61,4 bilhões em seus números, resultado de ativos inflados em R$ 88,6 bilhões e outros subavaliados em R$ 27,2 bilhões. Mas não conseguiu dimensionar quanto desse rombo foi provocado pela corrupção, preferindo omitir esses números no balanço do terceiro trimestre.
Só com essa informação a empresa poderá, finalmente, publicar o relatório financeiro de 2014 auditado. O prazo para isso vence em quatro meses.
Produção. A preocupação com as condições de financiamento das operações já pesa sobre as previsões de investimentos da companhia, sobretudo na área de Exploração e Produção. A companhia anunciou que espera investir entre R$ 31 bilhões e R$ 33 bilhões este ano – cerca de 25% menos que em 2014. O corte atingirá sobretudo a atividade exploratória, que será reduzida “ao mínimo necessário”.
A meta de produção foi revista para que a companhia possa “suportar” os volumes de investimentos. A empresa também vai vender áreas de produção consideradas menos prioritárias. Com a retração do preço internacional do barril de US$ 100 para US$ 50, desde outubro, a petroleira vai esperar até o fim do ano para fazer os desinvestimentos, na esperança de que os preços voltem a subir.
Serão revistos projetos no Brasil e no exterior. Das quatro refinarias planejadas, duas foram abandonadas: as Refinarias Premium, anunciadas nos governos Lula, nunca saíram do papel e geraram custos à estatal de R$ 2,7 bilhões. As duas que permanecem no planejamento, a Refinaria Abreu e Lima e o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), terão seus prazos revistos.
Se todo o esforço for bem sucedido, a companhia chegará ao final do ano com caixa módico de US$ 8 bilhões. Uma condição fundamental para esse plano, entretanto, é a manutenção dos preços dos combustíveis em um nível superior ao praticado no mercado internacional, uma forma de engordar o caixa da estatal.
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