Políticos como testemunhas
• Defesa de presidente da UTC inclui como testemunhas políticos que receberam doações
Renato Onofre - O Globo
SÃO PAULO - Os advogados do presidente da UTC, Ricardo Pessoa, pediram à Justiça Federal do Paraná a inclusão do ministro Jaques Wagner (Defesa), do candidato à presidência da Câmara Arlindo Chinaglia (PT-SP) e de outros seis políticos de cinco partidos como testemunhas de defesa do empresário. Acusado de lavagem de dinheiro, corrupção e formação de organização criminosa, Pessoa é apontado pelo Ministério Público Federal (MPF) como o responsável por gerenciar o "Clube das Empreiteiras", que controlaria o esquema de cartel na Petrobras.
Além de Wagner e Chinaglia, a defesa ainda quer incluir o ex-ministro da Comunicação Paulo Bernardo (PT-PR), os deputados federais Paulinho da Força (Solidariedade-SP), Arnaldo Jardim (PPS-SP), Jorge Tadeu Mudalen (DEM-SP) e Jutahy Magalhães (PSDB-BA), além do secretário municipal de Saúde de São Paulo, José de Filippi Júnior, que foi tesoureiro da campanha presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva em 2006 e de Dilma Rousseff em 2010. No total, os advogados arrolaram 22 testemunhas. A decisão de quem irá ao tribunal será tomada pelo juiz Sérgio Moro.
Durante o período investigado pela Operação Lava-Jato, a UTC doou R$ 3,6 milhões à campanha de sete dos oito políticos arrolados como testemunhas de defesa. Apenas o ex-ministro Paulo Bernardo não recebeu recursos diretos da empresa, mas sua mulher, Gleisi Hoffmann (PT), foi beneficiada no ano passado na disputa pelo governo do Paraná. Wagner foi quem recebeu a maior doação da empreiteira: R$ 2,2 milhões em 2010, durante a campanha ao governo baiano.
Ricardo Pessoa está preso desde novembro na carceragem da Polícia Federal em Curitiba. No processo, apresentado pelo MPF em dezembro, o empresário é acusado de corrupção, lavagem de dinheiro e de formação de organização criminosa. O esquema montado entre 2006 e 2014 na diretoria de Abastecimento da Petrobras teria irrigado ilegalmente os partidos da base do governo.
No início deste mês, Pessoa divulgou uma carta em que levantou suspeita sobre a existência de vínculo entre contratos firmados com a Petrobras e recursos doados para a campanha da presidente Dilma Rousseff. Em texto de seis páginas publicado pela revista "Veja", Pessoa disse: "Vale para o Executivo também. As empreiteiras juntas doaram para a campanha de Dilma milhões. Já pensou se há vinculações em algumas delas. O que dirá o nosso procurador-geral da República. STF a se pronunciar".
Em outra parte, o empresário cogita que alguém denuncie o suposto elo entre o esquema na Petrobras e a campanha presidencial. "Edinho Silva (tesoureiro da campanha de Dilma) está preocupadíssimo. Todas as empreiteiras acusadas de esquema criminoso da Operação Lava-Jato doaram para a campanha de Dilma. Será se (sic) falarão sobre vinculações campanha x obras da Petrobras?", questiona.
À época, Edinho negou haver relação entre os contratos sob suspeita na Petrobras e o dinheiro arrecadado pela presidente Dilma na campanha e minimizou os ataques do empresário.
O GLOBO não conseguiu contato com o criminalista Alberto Toron, que faz a defesa de Pessoa, para saber os motivos que o levaram a convocar os oito políticos como testemunha de defesa. Na ação dele, Torono diz que não teve acesso à íntegra dos documentos que embasaram a acusação contra o empreiteiro e nega que o empresário tenha cometido crime de lavagem de dinheiro.
A petição da defesa da UTC diz ainda que a denúncia de corrupção é genérica e insuficiente. O advogado contesta a tese do MPF de que os contratos assinados entre a UTC e a empresa Sanko, apontados pelos investigadores como o caminho para o desvio de recursos na Petrobras, foram fictícios.
Os advogados defendem que a acusação contra Pessoa é "fraca" por não denunciar as empresas supostamente envolvidas com a UTC em esquemas, como Andrade Gutierrez e Odebrecht, além do ex-diretor de Engenharia e Serviços da Petrobras, Renato Duque.
Através da assessoria do Ministério da Defesa, Jaques Wagner informou que só vai se pronunciar sobre o caso quando for notificado pela Justiça.
O deputado petista Arlindo Chinaglia, em nota, afirmou "desconhecer as razões" pelas quais foi arrolado e disse que, em razão das funções institucionais, quando era presidente da Câmara, recebeu Pessoa como representante de associação empresarial. Negou manter qualquer relação pessoal com ele e disse que não vê "qualquer sentido" em testemunhar no processo.
Paulinho diz ter boa relação com empresário
Paulinho da Força afirmou, através de sua assessoria de imprensa, que mantém "boa relação" com o empresário e que testemunhará "tranquilamente", se convocado. Ele explicou ainda que todas as doações a ele ou ao Solidariedade foram feitas legalmente. O deputado baiano Jutahy Magalhães afirmou conhecer Pessoa há 40 anos, mas que mantém uma relação "impessoal" com o acusado. Ele declarou ainda que a convocação deve ter sido motivada para explicar as doações feitas a ele em 2010 e 2014.
- Em 2010, Pessoa me ligou oferecendo para doar à minha campanha. Quatro anos depois, eu o procurei. Todos os nossos contatos foram feitos institucionalmente - disse Jutahy.
Procurado, José de Filippi Júnior não se manifestou. O GLOBO não conseguiu falar com o ex-ministro Paulo Bernardo e com os deputados Arnaldo Jardim e Jorge Tadeu Mudalen.
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