• Dois dias após ordem de Dilma, ministros dão palestras e declarações públicas em defesa do ajuste fiscal e negam 'mudança de política'
Ricardo Galhardo e Rafael Moraes Moura - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - Dois dias depois de receberem ordem expressa da presidente Dilma Rousseff, integrantes do primeiro escalão do governo começaram ontem a travar a "batalha da comunicação" determinada pelo Palácio do Planalto. Os ministros Nelson Barbosa (Planejamento), Jaques Wagner (Defesa) e Miguel Rossetto (Secretaria-Geral da Presidência) saíram em defesa do pacote de medidas de ajuste fiscal em reuniões com segmentos representativos da sociedade, entrevistas e até nas redes sociais.
Dilma foi eleita prometendo mais diálogo no segundo mandato. Na reunião ministerial de terça-feira, a presidente exortou sua equipe a travar uma "batalha de comunicação" em defesa dos projetos do governo.
Dois dias depois do encontro em Brasília, Barbosa se reuniu de manhã com mais de 20 empresários paulistas na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), onde fez uma apresentação de slides detalhando as medidas de "reequilíbrio fiscal" divulgadas neste início de segundo mandato.
Segundo ele, 70% dos ajustes virão de cortes de gastos do governo e outros 30% de "aumentos de receita", expressão que foi interpretada por empresários como elevação da carga tributária, já que a estimativa é que a economia fique estagnada em 2015.
O ministro garantiu que, de acordo com os dados disponíveis, não existe risco de racionamento de energia neste ano.
Em pouco mais de duas horas Barbosa mais ouviu - principalmente reclamações - do que falou. A iniciativa de ir à Fiesp foi do próprio ministro, que prometeu voltar em breve com respostas concretas para as demandas apresentadas. Na semana que vem, a entidade deve receber o titular da Fazenda, Joaquim Levy. Nos próximos meses, cerca de 20 ministros devem ir à Fiesp, o que foi interpretado como uma mudança de postura do governo em relação ao primeiro mandato de Dilma.
"Sinto que há bastante disposição para o diálogo. Pelo menos conosco", disse o presidente da Fiesp, Paulo Skaf.
Sindicalistas. Na sequência, Barbosa participou de uma reunião promovida pela Fundação Perseu Abramo, centro de estudos vinculado ao PT. O ministro apresentou os mesmos slides, agradou à ala política do partido, mas ouviu críticas duras de petistas ligados ao movimento sindical.
Partindo da premissa de que Dilma só foi eleita graças ao esforço dos sindicalistas no 2.º turno, esses petistas reclamaram por não terem sido ouvidos pelo governo antes da adoção de medidas impopulares, como a que endurece as regras do seguro-desemprego.
"O problema não é nem a medida em si mas a forma como se deu" reclamou o secretário sindical do PT, Angelo D'Agostini, que, no entanto, enxerga uma mudança de postura do governo em relação ao diálogo. "A forma como foi feito levou à manifestação das centrais sindicais ontem (anteontem).
Agora a expectativa é que essa nova postura surta efeito até fevereiro e evite novas manifestações."
No dia 3, as centrais sindicais e o governo, representado por Miguel Rossetto, terão uma reunião em São Paulo para tratar do ajuste fiscal.
'Melhorias'. Ontem, Rossetto admitiu a jornalistas que o governo federal poderá "melhorar" e "ajustar" as alterações nas regras que dificultaram o acesso a benefícios trabalhistas, como o seguro-desemprego, anunciadas pelo governo no mês passado.
"Nós vamos no dia 3 escutar as centrais sindicais. Estamos seguros da qualidade e da necessidade das medidas. Todas elas podem, obviamente, ser qualificadas, melhoradas e ajustadas. Para isso serve o diálogo. E é nesse processo que apostamos", disse o ministro. "Estamos dialogando. São medidas necessárias, importantes e podem ser sim, todas elas, melhoradas."
Jaques Wagner, por sua vez, usou a conta pessoal no Twitter para garantir que o governo não vai "revogar" os direitos dos trabalhadores. "Não vai ser agora que vamos revogar os direitos daqueles que defendemos, como disse a presidenta Dilma na reunião ministerial de terça", comentou o ministro, ao comemorar a taxa de desemprego de 4,3% apurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nas seis principais regiões metropolitanas. O índice é o mais baixo da série histórica, iniciada em 2002.
"Muito pelo contrário: vamos seguir ampliando os esforços para gerar mais emprego e renda para todos os brasileiros", escreveu o petista, lembrando que no último mês de dezembro a taxa de desemprego "voltou a alcançar o menor nível de sua história".
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