• Conta de quatro anos de fantasia econômica vai aparecer no dia a dia dos brasileiros
- Folha de S. Paulo
Gostem ou não do novo plano econômico de Dilma Rousseff, gregos, baianos e troianos devem admitir que, levado à prática, o programa tende a provocar azia política e social, ainda mais neste ambiente de estagflação moderada que vem desde 2013 e deve durar até 2016.
Considerem exemplos algo aleatórios de risco de mal-estar social.
O salário mínimo. O mínimo terá aumentos acima da inflação no governo Dilma 2, segundo novas normas de reajuste que vão valer a partir de 2016, disse o novo ministro do Planejamento, Nelson Barbosa.
O mínimo vinha sendo reajustado pelo equivalente da soma da inflação do ano anterior com a expansão do PIB de dois anos antes. Dado que o governo está na pindaíba, o reajuste doravante deve ser menor, ainda que superior à inflação.
Ainda que a regra de reajuste permanecesse a mesma, no entanto, não haveria aumento real em 2016 e 2017. A economia deve ter crescido pouco acima de zero em 2014 e deve crescer no máximo nada em 2015.
Dois anos sem reajuste do mínimo, dois anos sem reajuste real para os 21 milhões de aposentados e pensionistas do INSS que recebem o mínimo. Cerca de 25 milhões de trabalhadores, mais de 25% dos ocupados, recebem o mínimo ou menos.
O que esse povo vai achar disso?
A gasolina. O governo precisa de dinheiro. A Petrobras precisa de dinheiro. O imposto da gasolina, a Cide, vai voltar, encarecendo o combustível de uns 10 a 25 centavos --esse dinheiro vai para o governo. E para a Petrobras?
Em tese, não está previsto reajuste extra da gasolina. A Petrobras, porém, está no bico do corvo e sem crédito. Se não conseguir cortar gastos, terá de tomar emprestado aqui no mercado doméstico ou pegar dinheiro do governo, o que é anátema e maldição para o ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
Quanto mais gasto cortar, maior será a contribuição da Petrobras à lerdeza econômica.
Enfim, o governo vai ter de deixar a empresa reajustar o preço da gasolina, irritando um tanto mais as classes médias?
O preço da eletricidade vai subir ainda mais. O governo não tem como bancar o subsídio que vinha concedendo à conta de luz.
A mensalidade escolar tem subido bem além da inflação. Vai subir o preço de ônibus, metrô, trem, vai subir o IPTU paulistano, a água ficará mais cara, se houver água.
Na média deste ano, o dólar vai ficar mais caro outra vez uns 10% a 15%, o que vai aumentar a sensação térmica de pobreza para quem é rico o bastante para sentir o efeito imediato do dólar em sua vida.
As centrais sindicais. Queriam dar cabo de medidas que reduzem o valor das aposentadorias, por exemplo. Virá o contrário ou coisa parecida. Além do mais, a criação de empregos formais deve chegar perto de zero no início do ano que vem, facada no coração do trabalhador das centrais.
A gente ainda mal sabe onde mais o facão vai passar, mas as centrais já não gostaram nada das medidas no entanto corretas de contenção de despesa com pensões por morte e seguro-desemprego. O que sobrevirá quando medidas dessa espécie forem a voto no Congresso?
Isso é apenas o varejo do mal-estar sociopolítico de 2015. Nem se tratou do atacado de pobres, miseráveis e desemprego.
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