• Auxiliar mais próximo de Dilma, ministro da Casa Civil diz não ter a pretensão de concorrer à sucessão presidencial
• Chamado de "primeiro-ministro" por aliados, petista nega que relação com ex-presidente esteja estremecida
Andréia Sadi – Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - Primeiro-ministro"" de Dilma Rousseff, Aloizio Mercadante (Casa Civil) afasta a possibilidade de ser candidato à sucessão da chefe e diz em entrevista à Folha que o PT só tem uma referência para 2018"": o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Ele é o meu candidato, sempre foi. Não tem essa discussão no PT. Quem está no coração da militância do PT é Lula. Eu não tenho essa pretensão e não está no meu horizonte"", afirmou o ministro.
Com a reeleição de Dilma, dirigentes petistas apostam nos bastidores que Mercadante usará a Casa Civil para pavimentar sua candidatura ao Planalto. Mas ele diz ter outros planos.
"Já estou chegando numa fase da vida em que dediquei tudo que podia para fazer o melhor para vida pública e para o país. Serei avô pela segunda vez na próxima semana, quero ter a chance de viver com meus netos o tempo que não pude viver com meus filhos"", disse Mercadante, que fará 61 anos em maio.
Petista histórico, ele viu sua carreira no Executivo decolar no primeiro mandato de Dilma, apesar de não ter alçado voos nos governos de Lula (2003-2010).
"O Senado era muito difícil, éramos minoria e a oposição era muito forte. Era desafio grande para a governabilidade e fiquei lá os oitos anos [da era Lula]"", afirma.
Ele nega relações estremecidas com o ex-presidente, como todo o petismo reconhece, e que Lula o teria tratado friamente na posse de Dilma na quinta (1º). "Não existe isso, ele me deu um abraço fantástico."
Para um dos auxiliares mais próximos de Dilma, Mercadante ganhou protagonismo no governo por ter um estilo semelhante ao de Dilma quando era ministra de Lula, de obediência e lealdade.
Perguntado sobre o que o levou ao estágio atual, ele cita seu trabalho nos Ministérios da Ciência e Tecnologia e da Educação como passagens bem-sucedidas: "Uma das palavras-chave para quem é governo é entregar".
Mas o estilo de Mercadante conduzir a relação da Casa Civil com outras instâncias é criticado por parlamentares, colegas de Esplanada e assessores ouvidos pela Folha.
Entre as características citadas estão vaidade e arrogância. Um deputado relembra reunião com Mercadante no início de 2014 em que ele disse que sobrava apoio a Dilma para a reeleição.
A declaração irritou líderes aliados, que suspenderam os encontros. No fim, a disputa com Aécio Neves (PSDB) no segundo turno foi apertada.
Um dos episódios que mais incomodaram a Esplanada foi a ordem dada por Mercadante para que todos os ministros colocassem os cargos à disposição após a reeleição de Dilma. A decisão não foi debatida com ninguém.
Então no Desenvolvimento Agrário e agora colega de Mercadante no Planalto, Miguel Rossetto (Secretaria-Geral) se recusou a se demitir quando cobrado pelo chefe de gabinete da Casa Civil. Mercadante cobrou Rossetto pessoalmente por telefone, e este perguntou afinal se a ordem era dele ou de Dilma.
O ministro releva as críticas. "Cada um vê o outro do jeito que vê. É da vida."
Mercadante entrou no governo Dilma na pasta da Ciência e Tecnologia em 2011. Em 2012, foi para o Ministério da Educação e construiu a fama de homem forte do governo na crise de junho de 2013, quando os protestos de rua surpreenderam autoridades.
Para dar resposta à voz das ruas"", Dilma convocou reunião no Palácio da Alvorada para discutir os cinco pactos que se tornariam a bandeira do governo diante dos protestos, ainda que nunca implementados --com a exceção do Mais Médicos, desengavetado às pressas.
Na biblioteca da residência oficial, os principais ministros aguardavam a presidente, que chegou acompanhada por Mercadante.
Ela explicou aos presentes que nem todos"" saberiam de tudo"" sobre os próximos passos para enfrentar a crise. Ali ficou claro para todos: uma pessoa saberia de tudo além dela", relembra um ministro presente no dia.
A partir daí, Mercadante foi escalado como principal porta-voz e articulador do governo. Com a saída de Gleisi Hoffmann (PT) para a eleição, Dilma o colocou na Casa Civil no início de 2014. No cargo, ganhou o apelido de primeiro-ministro"", que ele corrige: "Chefe da Casa Civil".
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