• Dilma prestigia nomes da corrente rival de Lula, que quer reforçar seu grupo no comando do partido
Tatiana Farah – O Globo
SÃO PAULO - Ao afastar do núcleo palaciano os ministros lulistas, a presidente Dilma Rousseff reacendeu no PT a velha disputa das correntes internas. Cada vez menos ideológicas e mais fisiológicas, as tradicionais tendências petistas saíram a campo disparando "fogo amigo" contra a nova composição do governo. A queixa veio do grupo que sempre comandou a sigla e é encabeçado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a Construindo um Novo Brasil (CNB), que se ressentiu da opção de Dilma por dois ministros ligados à sua principal rival nas disputas internas, a Democracia Socialista (DS), que integra o campo Mensagem ao PT.
Os gaúchos Miguel Rossetto, da Secretaria-geral, e Pepe Vargas, das Relações Institucionais, são considerados escolhas de Dilma por afinidade: são seus amigos e originais do estado onde a presidente consolidou sua carreira política. Mas, por serem da DS, desencadearam no PT pelo menos duas semanas de lamúrias. Pesou ainda o fato de os dois ocuparem posições no Palácio que antes pertenciam a lulistas da CNB, Gilberto Carvalho e Ricardo Berzoini, respectivamente. A DS compõe hoje um campo petista chamado Mensagem ao PT, que nasceu em meio à crise do mensalão para tentar fazer um resgate ético, uma vez que nomes importantes da CNB havia sido arrastados para o epicentro do escândalo, como José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares.
Tarso falou em refundar o partido
Um dos nomes da Mensagem é o do ex-governador gaúcho Tarso Genro que, ao assumir a presidência petista no auge da crise, falou até em "refundação do partido". A tese foi logo abandonada, mas a Mensagem se consolidou como principal adversária da corrente majoritária. Por outro lado, a CNB se aliou a outras correntes, como Novo Rumo, do presidente Rui Falcão, PT de Luta e de Massa e Movimento PT. Assim, atingiu a maioria tanto na direção executiva como na instância máxima do partido, o diretório nacional.
Apesar do discurso de confronto de correntes feito "para fora" do partido com o objetivo de pressionar a presidente Dilma por mais cargos, internamente, passado o anúncio do Ministério, os dirigentes petistas admitem que as divisões ideológicas estão cada vez mais enfraquecidas no PT. O partido, agora, se organiza muito mais em torno de lideranças e de mandatos parlamentares e executivos, do que em torno de ideias. Foi-se o tempo em que os petistas se debruçavam sobre longos debates acerca do socialismo e do papel do Estado.
Lideranças do partido ouvidas pelo GLOBO admitem que a DS saiu fortalecida com a nomeação dos dois ministros, mas não acreditam que, de fato, seja uma escolha ideológica da presidente Dilma até mesmo porque essa corrente tem uma visão desenvolvimentista da economia, mais próxima do estilo de Guido Mantega e mais crítica ao recém-nomeado ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
- As tendências estão exauridas, precisam ser reformadas e produzir. Não se pode organizar tendências só por interesse. No passado, elas foram decisivas nas grandes formulações do PT - avalia o vice-presidente do partido e dirigente da CNB, o deputado José Guimarães (CE), para quem é preciso "repaginar a vida dessas tendências".
Um dos principais nomes da Mensagem, o deputado Paulo Teixeira (SP) também vê uma diminuição no papel das tendências no partido. Para ele, é preciso que as correntes "recuperem sua dimensão ideológica e formuladora". Teixeira nega que a Mensagem seja "dilmista" e não "lulista".
- Nós somos lulistas, dilmistas e, antes de tudo, petistas.
Papel de Jaques Wagner
Uma das queixas petistas também recai sobre a ida de Jaques Wagner para a Defesa. No final da eleição, ele era considerado um "coringa" do governo e se esperava que ele ocupasse um cargo mais próximo da presidente. Há uma leitura interna, no entanto, de que o Planalto não poderia contar com dois "perfis altos" como o de Wagner e o de Mercadante sem gerar mais incômodos do que soluções para a presidente.
O fato é que, com poder reduzido no Planalto, o ex-presidente Lula quer turbinar a CNB no comando do partido. Ele tem dito que nomes como Gilberto Carvalho e Marco Aurélio Garcia, seus aliados mais próximos, fazem falta na direção da legenda.
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