• Confirmadas conversas do ministro com advogados, terá havido uma ingerência no Judiciário e no MP, bem como um ato em sentido oposto ao que diz o Planalto
Ministro da Justiça, como qualquer autoridade, pode receber quem quiser. Mas convém se cercar de cuidados para não semear especulações ácidas. Como registrar os encontros na agenda. José Eduardo Cardozo manteve conversas recentes com advogados de empreiteiras, não teve esta precaução, os contatos foram revelados pelo GLOBO e pela “Veja” e, assim, ministro e Planalto tiveram um carnaval de dissabores.
Já no sábado à noite, o ex-ministro do Supremo Joaquim Barbosa pediu, em mensagem pelo Twitter, a demissão de Cardozo. Barbosa, que também presidiu o STF, considera inconcebível que o ministro tenha aceitado abordar pelo viés político questões jurídicas em torno da Operação Lava-Jato. Criticou os advogados e Cardozo.
Na terça-feira, as atenções se concentrariam apenas nos comentários sobre o desfile de segunda das escolas de samba cariocas, se Barbosa não voltasse a investir contra Cardozo.
Ora, como não tem ascendência sobre o Poder Judiciário e o Ministério Público, independentes, o ministro deve interessar a advogados de empreiteiras por ser formalmente o superior hierárquico da Polícia Federal. Afora isso, Cardozo dialoga com o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, a quem cabe pedir investigações sobre aqueles com a prerrogativa de foro privilegiado e encaminhar denúncias a este foro, além de ser ouvido no Pleno da mais alta Corte do país.
No reino da pura especulação, pode-se imaginar que haja advogado esperançoso de que o pedigree petista do ministro ajude as empresas pelo fato de a maioria do STF ser composta de nomeados nos três governos do PT.
A movimentação das empreiteiras do petrolão tem sido intensa em Brasília. O objetivo imediato é conseguir libertar 11 presos, entre executivos e acionistas, por meio de habeas corpus. Até agora, seus advogados não têm sido felizes.
Mas, segundo a “Folha de S.Paulo”, Cardozo teria aconselhado a eles tranquilidade, pois o STF acabará soltando todos. Já a Sérgio Renault, defensor da empreiteira UTC, relata “Veja”, o ministro teria previsto que tudo mudará tão logo surja a lista de políticos beneficiados pelo petrolão com nomes da oposição.
Isso misturará as cartas no jogo e facilitará um acordão no Congresso para que ninguém seja punido. O ministro, então, teria aconselhado que Ricardo Pessoa, preso, dono da UTC, considerado o responsável pelo cartel de empreiteiras, não assine acordo de delação premiada — este seria o grande temor de governo e PT. Se tudo for confirmado, terá sido uma grave e indevida interferência do Executivo na esfera do Judiciário e do MP.
Além disso, representaria uma ação em sentido oposto ao discurso oficial em defesa da investigação e punição de corruptos, custe o que custar.
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