• Dezenas de agentes do serviço secreto invadiram escritório de Antonio Ledezma ontem à tarde
• Político é o de cargo mais importante entre os opositores já detidos no país; Maduro volta a falar em conspiração
Samy Adghirni – Folha de S. Paulo
CARACAS - Dezenas de agentes do serviço de inteligência da Venezuela prenderam na tarde desta quinta-feira (19) o prefeito da área metropolitana de Caracas, Antonio Ledezma, 59, que se torna o mais graduado político detido até agora pelo governo do presidente Nicolás Maduro.
Pouco após a prisão, Maduro disse na TV que Ledezma, um de seus mais ferozes críticos, tenta há anos promover um golpe de Estado.
O caso ameaça agravar as tensões políticas num país dominado por crise econômica e insatisfação social.
Eram 17h04 (19h34 de Brasília) quando Ledezma anunciou pelo Twitter que agentes do Sebin, o temido Serviço Bolivariano de Inteligência, haviam cercado o edifício no leste de Caracas onde fica o escritório privado de onde costuma despachar.
Segundo assessores, os agentes invadiram o prédio, danificaram o escritório e agrediram o prefeito. Nas redes sociais, imagens mostraram o momento em que Ledezma era levado, cercado por homens armados, uniformizados e encapuzados.
A mulher do prefeito, Mitzy Ledezma, relatou à Folha, por telefone, que os agentes não tinham mandado de busca nem de prisão.
"O covarde do Maduro tem que responder pela vida de Ledezma", disse, com a voz angustiada, ao tentar entrar numa sede do Sebin, no centro de Caracas, para onde seu marido teria sido levado. Dezenas de pessoas se reuniram no local ao anoitecer para exigir a libertação do prefeito.
"Estamos diante do desespero de um presidente que tem um povo passando fome. Não lhe resta outra opção a não ser jogar na cadeia a democracia dissidente", disse.
Ela se referia ao atual cenário econômico venezuelano, que inclui recessão do PIB de 2,8% no ano passado, inflação de 68% e escassez de produtos básicos que infernizam o dia a dia da população.
O opositor David Smolansky, prefeito do município de El Hatillo, um dos cinco que compõem Caracas, disse à Folha que os aliados de Ledezma têm poucas opções de defesa, pois "não há democracia nem Justiça no país".
A ONG Human Rights Watch condenou a prisão, que chamou de "arbitrária."
Na TV, o presidente Maduro disse que Ledezma "foi capturado por ordem da Promotoria e será processado para que responda por todos os seus crimes". Ele acusa o prefeito de ter participado do golpe de 2002, que derrubou, durante três dias, o então presidente Hugo Chávez.
Maduro voltou a citar um suposto golpe de Estado supostamente desbaratado na semana passada, no qual o prefeito foi mencionado.
Como prova das supostas intenções conspiratórias, Maduro mostrou um documento assinado por Ledezma e dois aliados que já estavam sob medidas judiciárias: a deputada cassada María Corina Machado, investigada por supostamente conspirar para matar Maduro; e Leopoldo López, preso há um ano sob acusação de instigar protestos que deixaram 43 mortos.
O documento pede o apoio dos venezuelanos em torno de um "governo de união nacional", o que, segundo Maduro, evidencia um plano de derrubá-lo.
Na noite desta quinta, a mídia local relatava situação tensa na prisão militar de Ramo Verde, nos arredores de Caracas, onde está preso o opositor Leopoldo López desde 18 de fevereiro de 2014.
Segundo a família de López, havia um entra e sai de homens armados no local.
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