• Nota diz que elas afetam políticos 'democraticamente eleitos'; para o governo, situação piorou desde prisão de opositor
• Aécio criticou Dilma por 'omissão'; presidente disse que detenção de prefeito era 'questão interna' da Venezuela
Isabel Fleck e Mariana Haubert – Folha de S. Paulo
SÃO PAULO, BRASÍLIA - "São motivos de crescente atenção medidas tomadas nos últimos dias, que afetam diretamente partidos políticos e representantes democraticamente eleitos, assim como iniciativas tendentes a abreviar o mandato presidencial”.
O Itamaraty subiu o tom nesta terça (24) ao comentar as recentes ações do governo venezuelano, afirmando que "são motivos de crescente atenção medidas tomadas nos últimos dias, que afetam diretamente partidos políticos e representantes democraticamente eleitos".
Na última quinta (19), o prefeito metropolitano de Caracas, o oposicionista Antonio Ledezma, foi detido em seu escritório sob a acusação de conspirar para derrubar o governo. Na segunda (23), o partido conservador Copei teve sua sede invadida e tomada por um grupo de pessoas com apoio da polícia.
Em sua primeira nota após a prisão de Ledezma, na sexta (20), o Itamaraty disse apenas que acompanhava "com grande preocupação a evolução da situação". Antes, a presidente Dilma Rousseff havia declarado que o caso era uma "questão interna" do país.
Na nota desta terça, o Itamaraty segue não mencionando especificamente a prisão do prefeito, mas diz que as últimas ações afetam partidos e políticos democraticamente eleitos.
Segundo a Folha apurou, o novo texto, aprovado pelo Planalto, reflete a leitura do governo brasileiro de que a situação política no país piorou desde a prisão de Ledezma.
A chancelaria, contudo, coloca também como motivos de preocupação as "iniciativas tendentes a abreviar o mandato presidencial".
Uma das provas apresentadas por Caracas da suposta tentativa de golpe pela oposição é uma carta aberta, veiculada neste mês, que pede um "acordo nacional de transição". O texto tem a assinatura de Ledezma, de Leopoldo López, outro líder oposicionista preso há um ano, e de María Corina Machado, acusada em dezembro de conspirar para o assassinato de Maduro.
No comunicado, o Itamaraty diz que o governo considera "imperiosa" a rápida retomada do diálogo político, por meio da Unasul e com o apoio da Santa Sé.
"Nesse sentido, [o Brasil] reitera sua disposição de contribuir de forma ativa com o governo venezuelano e com todos os setores envolvidos na Venezuela para a retomada desse diálogo", afirma.
Na nota, o governo pede ainda que atores políticos venezuelanos se abstenham "de atos que possam criar dificuldades" ao diálogo.
União europeia
Nesta terça, a União Europeia se manifestou sobre a crise na Venezuela, dizendo que a prisão de Ledezma é um "motivo de alarme" e pedindo ao governo que respeite a liberdade de expressão e os direitos fundamentais.
No Brasil, o senador Aécio Neves (MG), presidente nacional do PSDB, criticou, no plenário do Senado, a omissão do governo. "A posição conivente e silenciosa do Brasil com tudo isso é inaceitável e, a meu ver, vergonhosa."
O tucano disse ainda que o Brasil será cúmplice do governo de Maduro caso haja um "banho de sangue" no país vizinho. "Não será de estranhar se em breve ocorrer um banho de sangue na Venezuela. O Brasil pagará um alto preço pela sua omissão."
Ontem à noite, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, agradeceu ao PT pela divulgação de um manifesto de apoio a seu governo e saudou os "irmãos" Lula e Dilma.
Colaborou Samy Adghirni, de Caracas
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