• Crise da água expressa falênciado sistema político
- O Globo
O Brasil precisa desesperadoramente de água. Que a sorte nos traga chuvas fortes, nos lugares certos, no que resta de temporada de chuva. Mesmo que isso aconteça, 2015 será crítico. E as autoridades públicas continuarão a ter que assumir suas responsabilidades sobre uma pergunta crucial: e se no próximo verão a estiagem se repetir?
O Brasil precisa desesperadoramente de Política. Quando os ventos são favoráveis, os sete anos de vacas gordas no sonho que José interpretou para o faraó no Antigo Testamento, a Política não é tão necessária e a política, com p pequeno, causa prejuízos mas dá conta do recado.
Mas em tempos de crise econômica, nas expectativas sociais, institucional, de valores e tudo isso em um mundo conturbado e em transformação acelerada, a Política é o único meio de sociedades agirem com alguma consciência, planejarem e serem capazes de aceitar custos e limites no presente para atingir objetivos no futuro.
A crise de recursos hídricos tem uma dimensão que não está sendo notada. Ela expressa não apenas a falência da capacidade de planejamento e gestão mas também a falência do próprio sistema político na sua capacidade de agir, mesmo em um caso tão óbvio e vital quanto abastecimento de água e energia. Foi assinado indelevelmente o recibo da baixíssima qualidade da democracia brasileira e de um sistema e jogo políticos restritos ao propósito de conquista do poder.
A imensa irresponsabilidade ocorrida na gestão dos reservatórios para abastecimento de água e geração de energia evidenciou que o sistema político no Brasil tem enormes dificuldades para tomar decisões custosas e falar abertamente a seus eleitores sobre limites e sacrifícios, mesmo quando indispensáveis para o bem comum.
Não basta a política na legalidade. Para satisfazer nossa sede de Política capaz de ação e transformação, é preciso que a Política tenha legitimidade, o que a representação nos parlamentos e poderes executivos perdeu há tempos, em um quadro que vem se agravando de forma muito preocupante.
O que ameaça a democracia no Brasil não é a rejeição da política, como às vezes afirmam alguns. É a falta de Política que a geleia geral do sistema partidário e de poder gerou. Reforma Política já, não para que o povo vote melhor, porque essa postulação é profundamente antidemocrática: votar melhor é votar igual ao individuo que sugere esse objetivo.
Reforma política já para reduzir o peso do dinheiro na competição eleitoral e para reduzir o numero de partidos de modo a permitir ao eleitor correlacionar grupamentos partidários com campos de ideias.
Sede da verdadeira Política porque sem ela o caminho para as mais estranhas aventuras estará aberto como resultado da crise. Resta rezar para chover e para o Barão de Itararé estar errado quando disse que de onde menos se espera, daí é que não sai nada mesmo.
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Sérgio Besserman Vianna é economista
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