domingo, 8 de fevereiro de 2015

Sob o símbolo de "Moch" – Editorial / Veja

A Operação Lava-Jato apurou que a organização criminosa instalada na Petrobras loteou as diretorias. Uma servia ao PMDB, outra ao PP e demais partidos da base aliada. A diretoria de Serviços, comandada por Renato Duque e Pedro Barusco, era exclusiva do PT.

Com a divulgação na semana passada do depoimento de Barusco dado à Polícia Federal em novembro de 2014, o foco da Lava-Jato recaiu sobre o PT, justamente no momento em que o partido comemorava 35 anos de sua fundação. Barusco estima que o PT tenha tirado em dez anos meio bilhão de reais em propinas cobradas por ele e Duque das empreiteiras investigadas no escândalo do petrolão. Vale repetir.

Meio bilhão de reais. Essa montanha de dinheiro foi extraída dos noventa maiores contratos de empresas com a Petrobras entre 2003 e 2013.

Barusco é aquele que se ofereceu para contar o que fez junto com Renato Duque na Petrobras e se prontificou a devolver ao Tesouro Nacional o equivalente a 100 milhões de dólares do montante desviado.

O PT surgiu no horizonte político em 1980 como uma estrela iluminada pela feliz conjugação da esquerda democrática com o sindicalismo de resultados.

Carismático, bom negociador e anticomunista, Lula completava o quadro de esperança do país, que se preparava para enterrar o regime militar, abrindo espaço para um quadro político dinâmico e consensual, totalmente diferente daquele polarizado entre esquerda e direita tradicionais, tão corruptas quanto dogmáticas. Há 35 anos o PT era um partido de ideias alinhadas com o que havia de mais universal, contemporâneo e inovador na esquerda mundial, a rejeição ao totalitarismo soviético, a disposição ao diálogo entre patrões e empregados e a convivência produtiva entre os governos e os mercados. Lula se insurgia contra os barões da esquerda dogmática. Em um comício como primeiro presidente do PT, ele disparou: "Aqueles que têm o privilégio de ler um belo livro de Marx ou Lenin confortavelmente deitados, evitem ditar regras aos trabalhadores".

A experiência de poder, em especial de poder federal, acabou com o que sobrara daqueles tempos heroicos. O PT, como tantas outras forças revolucionárias da história, sucumbiu à maldição de Saturno, o dito clássico segundo o qual as revoluções devoram os próprios filhos. O PT devorou seus ideais originais. A corajosa universalidade deu lugar ao nacionalismo canhestro.

O partido chegou aos 35 anos vergado sob o peso das ideologias retrógradas contra as quais se insurgia. Chegou mestre em fisiologismo, prática que prometera erradicar. Chegou com a imagem, justa ou não, de a mais corrupta organização partidária brasileira. Melancolicamente, o símbolo do PT aos 35 anos de idade é o "Moch", diminutivo de mochila, apelido entre os corruptos de João Vaccari Neto, tesoureiro do partido, que, na semana passada, foi levado "sob vara" a depor.

Essa operosa mochila levava a políticos do PT dinheiro vivo e sujo do esquema do petrolão. Triste efeméride para quem chegou ao Palácio do Planalto para consertar "tudo isso que está aí" e em doze anos de poder o que fez mesmo foi aderir às piores práticas da política e aprimorá-las.

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