Durante a campanha eleitoral de 2014, cada vez que os candidatos de oposição apresentavam um dado econômico que mostrava deterioração nas contas, os apoiadores de Dilma Rousseff tiravam da gaveta gráficos e tabelas sobre emprego e renda calculados pelo IBGE para se defender. De fato, o índice de desemprego calculado pelo instituto apontava para mínimas históricas e com massa salarial mais alta. O eleitor é pragmático e não é exagero dizer que vota com o bolso. Por isso, o discurso sempre colava. Mas a reversão da tendência positiva mostrada ontem pelo órgão responsável pela estatística oficial é preocupante.
A taxa de desemprego chegou a 5,9% em fevereiro, ante 5,3% em janeiro, com crescimento em todas as cinco regiões metropolitanas pesquisadas (Recife, Salvador, Belo Horizonte, São Paulo e Rio). O rendimento médio no mês foi de R$ 2.163,20, o menor desde setembro passado. A leitura é até simples: tem mais gente procurando emprego e, como a crise tem cobrado mais do setor industrial, os salários recuaram. Mesmo regionalmente, é difícil dizer quem está bem na foto. A taxa de desocupação em São Paulo ficou em 6,1%, a maior desde julho de 2013. Em Salvador, chegou a 10,8%, patamar que não era visto desde meados de 2010.
Não é por outro motivo que as pesquisas de avaliação do governo federal do Datafolha e da CNT/MDA convergiram para níveis recorde de descontentamento. A população começa a temer pelo emprego e a alta da inflação está corroendo a renda dos assalariados. No livro "A Cabeça do Eleitor", o sociólogo Alberto Carlos Almeida cruza dados de várias disputas eleitorais para apontar que a escolha do voto se dá pela resposta a perguntas tão simples como: minha vida está melhor? No ano passado, na comparação com períodos anteriores, a resposta foi sim.
A candidata derrotada na última eleição, Marina Silva (PSB/Rede), chegou a afirmar que Dilma corria o risco de ganhar perdendo. Ao negar a crise econômica, empurrar situações ruins com a barriga e sonegar informações até o fim da eleição, foi exatamente o que a presidente fez. Corrigir isso tem um custo e todos pagam. Alguns, com o emprego.
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