• Não se compreende que, às portas de votações do ajuste fiscal no Congresso, o Planalto patrocine manobras contra o PMDB, partido vital para aprovar as medidas
Se a política brasileira seguisse as regras do vôlei, era o momento de o Planalto “pedir tempo” para reorganizar o governo nas articulações com o Congresso, em que os sinais de desorganização são estridentes. Chega a ferir os ouvidos, por exemplo, a insistência do Planalto no apoio à manobra engendrada pelo ministro das Cidades, Gilberto Kassab (PSD), para recriar mais uma legenda, agora o PL, a fim de, pela atração de infiéis, desidratar o PMDB.
O ex-prefeito de São Paulo, hábil em manter os pés em várias canoas ao mesmo tempo, fez o mesmo para desinflar partidos da oposição, ao criar o PSD, aproveitando-se da brecha na legislação pela qual parlamentares podiam trocar de legenda sem risco de perder o mandato, caso o partido para o qual migrassem fosse recém-criado ou surgisse de fusão. O DEM foi um das vítimas de Kassab.
Identificada a manobra, os caciques do PMDB trataram de apresentar e aprovar em alta velocidade lei que veta a troca de partido para legenda com menos de cinco anos de existência. Inclusive, se ela for anexada a outra. Parecia esvaziada a ideia de Kassab de recriar o PL, para fundi-lo com o PSD
A lei foi sancionada na quarta-feira por Dilma, com veto ao dispositivo pelo qual o parlamentar não perderia o mandato se aderisse à legenda resultante de fusão, durante uma janela de 30 dias.
Na interpretação de peemedebistas, o objetivo é impedir a evolução das negociações entre DEM e PTB para juntar as bancadas. Mas o principal motivo da renovação das irritações do PMDB com o Planalto é que Kassab protocolou na Justiça eleitoral a criação do PL.
O fato de a sanção só ter sido sacramentada no final do prazo foi considerado prova de que o governo jamais desembarcou do plano de Kassab. Ao contrário, teria ganhado tempo para o ministro dar entrada no TSE com o pedido de permissão para lançar o partido.
Toda essa trapalhada comprova a desorganização na coordenação política do governo. Quem, em sã consciência, aconselharia insistir na manobra, às portas de votações importantes no Congresso cruciais para o ajuste fiscal, cuja aprovação depende dos votos do PMDB?
São visíveis em toda essa rocambolesca história as digitais de alas do PT que consideram o PMDB o grande mal do país. Isso porque o partido, com todos os defeitos conhecidos (fisiologismo, coronelismo), mantém grande bancada no Congresso que serve de barreira a ações de cunho chavista do lulopetismo. Na linha de usar a democracia para estrangulá-la, por meio de constituintes ilegais, descabidas e que tais.
De resto, uma rematada e perigosa bobagem, pois o Brasil não é Venezuela, e esse tipo de esperteza golpista será barrado por outras instituições republicanas. Mas cria instabilidade política e insegurança jurídica. Péssimo para todos, a começar pelo próprio governo do PT.
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