• As projeções do Banco Central foram refeitas, sem muita cerimônia para com as que prevaleceram antes. Para este ano, por exemplo, a inflação salta para 7,9%, nada menos que 1,4 ponto porcentual acima do teto da meta (de 6,5%)
- O Estado de S. Paulo
O Banco Central se esforçou por ser menos confuso e mais realista no Relatório de Inflação divulgado nesta quinta-feira. Mas reviu projeções, sem deixar claro por que mudou.
O novo texto deixou de dizer que fará “o que for necessário” para controlar a inflação, como repetido nos dois últimos meses. Desta vez, não promete muita coisa, deixando a impressão de que simplesmente espera que a atual política acabará naturalmente por tirar força da inflação.
Mas já não garante a recondução da inflação à meta de 4,5% em 2016, como enfaticamente afirmado no Relatório anterior e em declarações do presidente Alexandre Tombini.
As projeções foram refeitas, sem muita cerimônia para com as que prevaleceram antes. Para este ano, por exemplo, a inflação salta para 7,9%, nada menos que 1,4 ponto porcentual acima do teto da meta (de 6,5%). Ao longo de 2016 entrará em declínio, mas não convergirá para a meta, como prometido. Oscilará entre 5,4% e 5,0%. Está previsto recuo para a altura dos 4,7% apenas no primeiro trimestre de 2017.
A nova safra de projeções é uma indicação de que a autoridade monetária foi surpreendida pelas proporções e pelo impacto produzido tanto pelos tarifaços quanto pela esticada das cotações do dólar no câmbio interno. É uma surpresa que mostra a fragilidade das análises.
O Banco Central aponta alguns fatores que, na sua avaliação, deverão puxar a inflação para baixo depois de ter atingido o ponto alto da montanha-russa. Mas esse recuo é uma aposta, como tantas outras que não se confirmaram. A cada trimestre e a cada Ata do Copom os números variam, sem que o Banco Central aponte por que errou e por que as projeções subsequentes são para valer.
A recessão agora é oficialmente admitida. Para todo o ano passado, o recuo do PIB é de 0,1%. O de 2015 é de 0,5%. O comportamento do investimento chega a ser trágico. Não vale mais o que estava na Ata do Copom do dia 12 de março, ou seja, que “os investimentos também tendem a ganhar impulso”. Ao contrário, houve queda de 8,2% em 2014 e haverá nova queda, de 6,0%, em 2015.
(Nesta sexta-feira pela manhã, o IBGE deve divulgar os números finais das Contas Nacionais, as que medem o PIB, do quarto trimestre e de todo o ano de 2014.)
Neste Relatório, muda de repente também a avaliação dos efeitos da política fiscal (administração das receitas e despesas dos governos) sobre a inflação. Os textos anteriores insistiam em que “o balanço do setor público tende a se deslocar para a zona de neutralidade”, querendo com isso dizer que a farra com as contas públicas tendia a não provocar mais inflação. Os fatos mostraram que o balanço do setor público foi desastroso em 2014 e, nessas condições, não podia mesmo trabalhar para conter a inflação.
Ou seja, o Banco Central estava longe de ser sincero na matéria e isso provocou sérios danos à sua credibilidade. Desta vez, preferiu dobrar a língua. Limitou-se a dizer que “o Copom pondera que não se pode descartar migração da política fiscal para a zona de contenção”.
Mas, afinal, por que mudou tanto? Não será porque mudou o tipo de cobrança feita pelo governo?
Nenhum comentário:
Postar um comentário