A crise da economia brasileira é comprovada cada vez mais claramente pelo aumento das demissões, das vagas fechadas e do número cada vez maior de pessoas batalhando, sem sucesso, por uma colocação no mercado. O desemprego continua em alta e chegou a 6,2% da força de trabalho, em março, nas seis maiores áreas metropolitanas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A desocupação crescente já é consequência, segundo alguns analistas do mercado financeiro, do ajuste das contas públicas iniciado pelo governo. O diagnóstico pode ser precipitado. O aperto das finanças federais mal começou, mas os sinais de retração econômica, incluída a piora nas condições do emprego, vêm de longe. O desemprego nas principais áreas urbanas do País passou de 4,5% em dezembro para 5,3% em janeiro, 5,9% em fevereiro e 6,2% na última apuração. Em março do ano passado estava em 5%.
A piora do cenário nos últimos quatro meses foi uma evolução nada surpreendente. A economia brasileira esteve em recessão no primeiro semestre do ano passado e pouco melhorou no segundo. Em 2014 o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu apenas 0,1%, segundo o primeiro cálculo oficial, ainda sujeito à revisão. Depois de 12 meses muito ruins, a economia entrou em 2015 em marcha muito lenta, com a indústria debilitada, inflação muito alta para os padrões internacionais e potencial de consumo das famílias severamente prejudicado.
Um quadro mais feio que o das principais áreas metropolitanas já era mostrado, há meses, pelo próprio IBGE, em seu levantamento mais amplo, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), realizada em cerca de 3.500 municípios. Essa apuração indicou um desemprego médio de 6,5% nos três meses finais de 2014. O número subiu para 6,8% no trimestre encerrado em janeiro e para 7,4% no período entre dezembro e fevereiro.
Essa pesquisa, bem mais ampla que o levantamento tradicional do IBGE, mais conhecido e mais citado, vem mostrando há dois anos taxas piores que as de várias economias industrializadas, como a Alemanha, o Reino Unido, os Estados Unidos, a Coreia e, obviamente, o Japão.
Os dados da pesquisa mensal nas seis áreas metropolitanas, embora menores que os da Pnad, confirmam a deterioração das condições de emprego. Além disso, também são piores que os daquelas economias avançadas, mas esta talvez não seja, neste momento, a comparação mais relevante.
Mesmo nos países desenvolvidos com maiores taxas de desemprego, há sinais de recuperação econômica. A reativação tem sido firme nos Estados Unidos e no Reino Unido e mais insegura na maior parte dos países da zona do euro, mas os sinais, de modo geral, são positivos. No Brasil, 2015 começou com a economia em mau estado, depois de quatro anos de estagnação, inflação alta e crescente descontrole das finanças federais.
A indispensável arrumação das contas públicas será realizada num cenário já recessivo ou quase. O balanço da produção do primeiro trimestre será com certeza muito ruim. Além disso, o aperto das finanças do governo será acompanhado, inevitavelmente, de juros muito altos, necessários para conter uma inflação muito alta.
Nos países desenvolvidos, o duro ajuste fiscal iniciado nos últimos anos e ainda sem conclusão foi acompanhado de políticas monetárias frouxas, com juros muito baixos. Nas desastrosas condições criadas pelos erros de política econômica dos últimos anos, nem o pequeno conforto dos estímulos monetários será admissível. Ninguém deverá surpreender-se, portanto, se o desemprego aumentar nos próximos meses - como já indicam, de toda forma, as sondagens de expectativas e de planos do empresariado.
Os novos números do IBGE confirmam a redução do rendimento habitual dos trabalhadores, explicável em parte pela inflação e em parte pela piora das condições de contratação. Isso se refletirá no consumo e, por tabela, na produção e no próprio emprego. Os trabalhadores pagarão um preço alto pelos erros e pela irresponsabilidade dos governos petistas. O conserto dos estragos causados pelo populismo nunca sai barato.
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