• Petistas vão pedir mandato de senadora; PSB garante vaga para campanha em 2016
Tatiana Farah, Sérgio Roxo, Julianna Granjeia e Fernanda Krakovics – O Globo
SÃO PAULO - Tiroteio e mágoa de parte a parte marcaram ontem a saída da senadora Marta Suplicy do PT, partido no qual militou por 33 anos e do qual se considera fundadora. Em carta destinada aos diretórios do partido em São Paulo e ao Diretório Nacional, Marta afirmou que deixou a legenda porque não aguentou ver o partido como "protagonista de um dos maiores escândalos de corrupção que a nação brasileira já experimentou". Ela disse ainda que "aqueles que, como eu, acreditaram nos propósitos éticos de sua carta de princípios (...) não têm como conviver com esta situação sem que esta atitude implique uma inaceitável conivência"
Em nota oficial, o presidente da sigla, Rui Falcão, e os presidentes regionais responderam que Marta faltou com a ética e é dona de um "personalismo desmedido". Dirigentes petistas afirmaram que disputarão o cargo da senadora na Justiça, com base na legislação eleitoral que determina que o mandato é do partido. Por outro lado, o PSB garantiu ontem a Marta a vaga da legenda na disputa pela prefeitura de São Paulo em 2016, quando ela deverá medir forças com o ex-aliado e hoje desafeto, o prefeito Fernando Haddad (PT).
Senadora disse que se sente traída
Para os petistas, além de amargar a saída de um de seus principais expoentes, o partido poderá ver ruir as chances de Haddad se reeleger, já que Marta concorre na mesma faixa e ainda pode arregimentar os votos contra o PT.
"Para mim, como filiada e mandatária popular, os crimes que estão sendo investigados e que são diária e fartamente denunciados pela imprensa constituem não apenas motivo de indignação, mas consubstanciam um grande constrangimento", escreveu Marta em sua carta de desfiliação.
No Senado, ela disse aos jornalistas:
- Tenho princípios éticos, e o partido rompeu todos os princípios pelos quais foi criado. Eu não tinha mais ambiente, não tenho mais vontade de estar em um partido em que me senti, de certa forma, como milhares de petistas e de pessoas que votaram no PT, traída.
A resposta do PT veio em nota oficial encabeçada por Falcão: "Apesar dos motivos enunciados, entendemos que as razões reais da saída se devem à ambição eleitoral da senadora e a um personalismo desmedido que não pôde mais ser satisfeito dentro de nossas fileiras. Por isso, resolveu buscar espaços em outros partidos", afirmou. "Lamentavelmente, a senadora retribui, com falta de ética e acusações infundadas, a confiança que o PT lhe conferiu ao longo dos anos".
Outros dirigentes petistas também demonstraram mágoa com Marta:
- Só nos resta buscar nossos direitos. A gente lamenta que tenha sido dessa maneira, sem debate e sem condições de contrapor os argumentos dela- disse um dos vice-presidentes nacionais da legenda, Jorge Coelho.
Francisco Rocha, o Rochinha, coordenador da tendência majoritária do PT, da qual Marta sempre fez parte, criticou a decisão da senadora, mas disse que a notícia da desfiliação não surpreendeu os petistas:
- É uma perda para os dois lados. Historicamente, todos os que saíram do PT para tentar uma aventura fora se deram muito mal. Pau que bate em Chico bate em Francisco- disse Rochinha, para quem a eventual candidatura de Marta não mudará as chances de reeleição de Haddad.
Marta confirma negociação com PSB
Outro vice-presidente nacional do PT, Alberto Cantalice confirmou que os petistas querem a vaga no Senado:
- O PT não deve nada para Marta. A devedora é ela, que foi eleita pela militância para todos os cargos que disputou. Vá, mas deixe o cargo.
Enquanto os petistas e Marta trocavam acusações, o PSB adiantava que a senadora deverá ser a candidata à sucessão municipal em São Paulo:
- Está tudo certo, assim que ela se filiar já será nossa candidata oficial. Não há nenhum problema sobre isso - afirmou o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira.
Em Brasília, Marta confirmou a conversa com o PSB:
-Mas não está batido o martelo - afirmou.
A senadora também disse não estar preocupada com a iniciativa do PT de requerer seu mandato na Justiça.
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