Sobra mês no fim do salário
• Renda tem queda de 2,8% nas metrópoles, a maior em 12 anos. Desemprego vai a 6,2%
Clarice Spitz – O Globo
O mercado de trabalho sofreu o impacto da crise econômica do Brasil. A renda recebida nas principais regiões metropolitanas do país (Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Recife, Salvador e Porto Alegre) teve o maior tombo em 12 anos: queda real de 2,8% frente a fevereiro, segundo a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE. Na comparação com março do ano passado, a perda chegou a 3%. Até em termos nominais houve queda, de 1,3%, ou seja, mesmo sem levar em conta as perdas causadas pela inflação, os valores efetivamente recebidos em março (R$ 2.134,60 em média) foram menores do que os do mês anterior (R$ 2.196,76). Isso ocorre, por exemplo, se a pessoa mudou de emprego e passou a receber menos. Já a queda real acontece quando a renda cresce menos que a inflação, ou seja, o rendimento até subiu, mas não tanto quanto os preços — o que faz com que o poder de compra fique menor.
Já o desemprego subiu pela terceira vez consecutiva e passou de 5,9%, em fevereiro, para 6,2% no mês passado, a taxa mais alta desde maio de 2011 (6,4%). Em relação a março de 2014, a alta foi de 1,2 ponto percentual. Para especialistas, a queda na renda e da massa de rendimentos e a alta da taxa de desemprego confirmam a retração da economia brasileira em 2015. Na passagem de fevereiro para março, a queda na renda real atingiu trabalhadores com e sem carteira assinada, quem trabalha por conta própria e até servidores públicos. Trabalhadores do comércio, da indústria, serviços, construção, bem como de serviços domésticos, servidores públicos e de serviços como hospedagem e alimentação tiveram quedas expressivas no rendimento. A exceção ficou por conta do rendimento dos trabalhadores sem carteira que subiu 2,7% em relação a março de 2014.
Esse dado, segundo o IBGE, pode estar associado à uma queda ainda mais intensa do emprego formal. Para especialistas, o cenário econômico mais difícil, a baixa expectativa de empresários e de consumidores, aliados à inflação alta e à dispensa de temporários típica dessa época do ano podem estar por tr ás da queda na renda. O economista João Saboia, da UFRJ, chama a atenção de que o comportamento da taxa de desemprego entre janeiro e março segue intensidade semelhante à dos três primeiros meses de 2009, quando o país atravessava a crise financeira internacional.
A massa de rendimentos real (som a de todos os salários) também recuou 3% em relação a fevereiro e de 3,8% em relação ao mesmo mês do ano passado. Para Saboia, é mais um sinal de que a economia registrará mesmo uma queda neste ano. —A queda na massa de rendimento retroalimenta a recessão econômica — afirma Saboia. Ele pondera, no entanto, que existe uma possibilidade de recuperação no segundo semestre, tradicionalmente mais forte para o mercado de trabalho. — Mas tudo a depender do comportamento da inflação.
Reflexo da crise na Petrobras e nas empreiteiras
José Marcio Camargo, da Opus Gestão de Recursos e da PUC-RJ, já não prevê recuperação este ano. —Claramente está muito fraco e vai piorar. É uma queda enorme do PIB a esperada (ele estima de -1,5% em 2015) isso fatalmente vai gerar um aumento do desemprego muito forte — afirma. — Como a economia está iniciando um processo recessivo, o mais provável é que o segundo semestre seja pior. Não acho que a inflação vai desacelerar, a inflação vai ficar em 8,5%. A energia não vai continuar subindo tanto, mas vai demorar para desacelerar , os serviços , nos últimos quatro anos, cresceram cerca de 8,5% — afirma.
Tanto Saboia quanto Camargo consideram "preocupante" a queda nominal dos salários, mas ainda não sabem diagnosticar ao que ela estaria ligada. — O salário nominal está caindo na margem, o que pode indicar algum problema específico nos últimos dois meses, como a questão da Petrobras e das empreiteiras e ser localizado ou indicar que a tendência é de um mercado tão fraco que já está gerando esta queda. É difícil imaginar reajustes de salários com queda nominal. Para um resultado desses, seria preciso uma taxa de desemprego no mínimo duas vezes maior — afirma Camargo.
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