• Tanto o governo quanto a oposição avaliam que a diminuição do número de manifestantes não significa que a insatisfação com a presidente Dilma está menor. Um assessor do Planalto lembrou que o Datafolha não mostrou mudança no mau humor com o governo. Para líderes da oposição, o sentimento de indignação é o mesmo.
Insatisfação com Dilma não caiu, concordam governo e oposição
• Planalto se preocupa com alta reprovação mostrada no Datafolha; para líder do DEM, indignação continua
Fernanda Krakovics, Isabel Braga e Geralda Doca – O Globo
BRASÍLIA - Tanto o Palácio do Planalto quanto a oposição avaliaram que o número menor de manifestantes nas ruas ontem, comparado a 15 de março, não significou uma mudança no cenário de insatisfação com a presidente Dilma Rousseff. Apesar de aliviados com a menor adesão, integrantes do governo admitiram que não há motivo para comemorar. A preocupação maior é com a alta reprovação do governo mostrada na pesquisa Datafolha. Líderes da oposição lembraram que, mesmo com menos gente nas ruas, o sentimento de indignação da população com o governo continua muito alto.
— O Datafolha mostra que não há mudança de humor em relação ao governo. O fato de as manifestações estarem menores não é sinal de que a crise passou — afirmou um assessor do Planalto.
A pesquisa mostra que 60% dos brasileiros acham o governo ruim ou péssimo, e 63% apoiam a abertura do processo de impeachment de Dilma.
Sem reunião de avaliação, nem coletiva
Diferentemente do que aconteceu em 15 de março, quando dois milhões de pessoas foram às ruas, de acordo com a PM, ontem o Palácio do Planalto tentou tratar com naturalidade as manifestações. Desta vez, Dilma não convocou ministros para reunião de avaliação nem houve entrevista coletiva de ministros, o que em 15 de março deu margem a um panelaço pelo país. A presidente, que chegou do Panamá na madrugada de ontem, monitorou os protestos do Palácio da Alvorada e falou com ministros pelo telefone.
Para alguns integrantes da oposição, a redução do número de participantes pode estar relacionada com a proximidade dos dois atos e ao fato de ter sido realizado após a Semana Santa, o que prejudicou a mobilização. Para o líder do DEM da Câmara, Mendonça Filho, o sentimento contra o governo continua muito forte:
— O sentimento não mudou, a indignação permanece, e desta vez o movimento se espalhou por cidades menores. A impopularidade dela está estacionada em patamar absurdo, com a rejeição batendo 60%. Isso se agrava porque são apenas cem dias de governo. Um governo pode até perder a popularidade, isso até se recupera, mas ela e o PT perderam a credibilidade.
O líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima, também afirmou que a diminuição do número de manifestantes não reflete a redução da desaprovação ao governo Dilma.
— Essa leitura de que foi menos gente é uma leitura muito pobre. Os que não foram às ruas ontem não passaram a apoiar o governo. E, para mim, a volta dos manifestantes às ruas é um recado claro de que a oposição precisa encontrar um canal de diálogo com essa insatisfação, com esse movimento todo — disse o líder tucano.
O presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), estava em Belo Horizonte e optou por não participar do movimento de rua. Segundo sua assessoria, o tucano entende que esse é um movimento espontâneo e não tem que ser partidário, mesma postura adotada em 15 de março. Para Aécio, sua participação poderia dar um tom de partidarização do ato, o que não é conveniente.
Em nota que assinou como presidente do PSDB, Aécio mostrou seu apoio e solidariedade ao movimento. Na nota, Aécio afirmou que as famílias brasileiras sentem os efeitos da crise econômica sobre os principais setores produtivos do país, e Dilma se mantém imobilizada, tentando terceirizar "responsabilidades intransferíveis".
"Além da crise ética e moral, o governo do PT impõe à sociedade a pior equação: recessão com inflação alta, juros altos e corte de investimentos nas áreas essenciais da Educação e da Saúde", diz um trecho da nota.
União de correntes em torno do "Fora, Dilma"
Para Mendonça Filho, os organizadores precisam ficar atentos para não banalizar os protestos:
— Faço uma alerta para quem está mobilizando: não banalizar, não fazer um ato a cada três semanas, pode enfraquecer, independentemente da indignação. Achei muito perto (os dois atos), mas como cidadão fui aos dois.
Para o líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO) — que participou do protesto em SP —, o ato de ontem teve um significado maior, porque uniu correntes em torno do "Fora, Dilma":
— Ficou provado que o desejo de ver Dilma e o PT fora do governo não se limita a uma região só. Mais de 400 cidades protestaram contra o PT, algo jamais visto, nem nas Diretas Já, nem nas manifestações que derrubaram Collor.
Integrantes do governo afirmaram ontem que o governo tem que reagir às manifestações com uma agenda positiva, e não com declarações. A dificuldade, na avaliação desses ministros e assessores da presidente, é que este ano é de "arrumar a casa" com o ajuste fiscal. Segundo um ministro, a pesquisa Datafolha revela que as pessoas continuam pessimistas em relação ao futuro, com medo de perder emprego, renda e conquistas obtidas.
Ministros do núcleo político tentaram minimizar o cenário negativo afirmando que há uma insatisfação geral com a classe política, e que a presidente Dilma acaba sendo a catalisadora das insatisfações. Um ministro que integra a coordenação política afirma:
— Há uma crise de funcionamento do Estado. A presidente é a mais atingida porque é a personagem política central. Mas por que a oposição não pode ir para a rua discursar? Há uma insatisfação geral com a classe política desde as manifestações de 2013.
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