O Datafolha e o esvaziamento dos protestos confirmaram o que a estabilização da confiança do consumidor tinha antecipado: Dilma Rousseff bateu no fundo do poço. É um poço sarneysiano, mas tem fundo. Escalá-lo, porém, vai ser demorado e escorregadio. O ajuste fiscal deve provocar muitas contrações antes de parir algo de positivo para a economia. O único aliado da presidente é o tempo - se ela conseguir domar o PMDB e se segurar no cargo.
Tempo é algo que os prefeitos, todavia, não têm. Pesquisa inédita feita pela Ideia Inteligência mostra que, na média, eles estão com 47% de avaliação ruim/péssima, ante 21% de boa/ótima. Mais: 43% acham que a vida piorou em suas cidades, e 59% desaprovam a atual administração municipal. O drama dos prefeitos é que eles encaram as urnas já no próximo ano. Com tamanho déficit de popularidade, a reeleição lhes será árdua.
A pesquisa foi feita por encomenda da Frente Nacional de Prefeitos, que reúne de Fernando Haddad (São Paulo, PT) a Eduardo Paes (Rio de Janeiro, PMDB), passando por ACM Neto (Salvador, DEM). Não foram divulgados resultados isolados por cidade.
O quadro é desolador para os gestores municipais. Dois em cada três eleitores se dizem pouco ou nada informados sobre o atual prefeito de sua cidade. Só 29% ouviram falar de alguma realização da prefeitura - a taxa é ainda menor nos pequenos e médias municípios. Nos grandes, o que mais chamou a atenção do público foram ciclovias e ciclofaixas: 32% citaram esse tipo de obra, o único com mais de 5% de lembranças. As ciclovias são aprovadas por dois terços dos entrevistados nas metrópoles.
Comparando-se a pesquisa dos prefeitos com a recente pesquisa do Datafolha sobre Dilma, é possível identificar duas tendências distintas da opinião pública, que se completam.
A primeira é que a insatisfação dos brasileiros com seus governantes é ampla, geral e irrestrita. Pega todas as esferas de governo e não distingue partidos. É um sentimento genérico de descontentamento. Produz desconfiança em relação aos políticos e sensação de impotência no eleitor. O sistema mostra-se incapaz de atender, com a urgência necessária, às demandas do público.
Essa tendência vem da soma de agravos cotidianos. O tempo desmesurado perdido no trânsito, as interrupções frequentes no abastecimento de água, a insegurança, a demora para receber atenção médica adequada, a má qualidade do ensino, a percepção de corrupção generalizada. É o que estava na base dos protestos onipresentes de junho de 2013. É o que explica uma popularidade tão baixa para tantos prefeitos agora. Mas há outra tendência.
A segunda e mais recente onda de insatisfação da opinião pública nasceu do temporal de aumento de preços, originado pelos reajustes dos combustíveis e da eletricidade. Como são decididos pelo governo e foram decretados após a eleição, soaram como traição para quem votou em Dilma. Some-se o pessimismo em relação ao desemprego, e entende-se por que a presidente tem 13 pontos a mais de ruim/péssimo do que a média dos prefeitos.
As duas ondas se sobrepõem no caso de Dilma, mas produzem turbilhão também nos municípios. A agenda negativa federal contamina o resto, diz Maurício Moura, diretor da Ideia Inteligência. O prefeito médio acabou no mesmo barco furado da presidente. Com a diferença que ele terá menos tempo para achar uma boia de salvação e não se afogar nas urnas em 2016.
Nem sempre aos domingos. Conforme previsto aqui pela pesquisa Ibope DTM no Twitter e pelo Google Trends, o 12 de abril foi uma pequena fração do 15 de março. Faltaram muitas partes, sobrou um denominador comum: o grupo mais intransigente na defesa do impeachment, do "tiro na cabeça do PT" e/ou do golpe militar. O PSDB não foi nem para a janela ver o protesto passar. Mais uma vez a máxima funcionou: longe da timeline, longe das ruas.
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