• O domingo trouxe algum respiro ao Planalto e mostrou a oposição reticente para empunhar bandeiras ainda incertas
Igor Gielow (Diretor da Sucursal de Brasília) – Folha de S. Paulo
A batida charada existencial do "copo meio cheio ou meio vazio" se aplica bem ao que ocorreu neste domingo, 12 de abril, segunda etapa das manifestações de rua contra o governo Dilma Rousseff.
Certamente há motivos para comemoração no Palácio do Planalto, mesmo com a propaganda interna informando a inevitabilidade de um "grande fracasso".
Afinal de contas, o movimento do 15 de março poderia ter mantido ou aumentado sua intensidade --embora em São Paulo, bastião mais vistoso do antipetismo hoje no país, as cenas ainda fossem algo impressionantes.
Esta é a visão "copo cheio", do ponto de vista governista. Foi trombeteada por seus apoiadores em redes sociais e, especialmente, por um certo jornalismo on-line financiado por verbas oficiais.
Na mão contrária, Dilma assistiu a 25 mil pessoas (segundo a PM local) irem à rua em seu quintal brasiliense. Público formado por funcionários públicos usualmente amáveis ao governo, qualquer que seja. Não foram os 45 mil de um mês atrás, mas longe da inexpressividade.
Em São Paulo, se insinua um cenário no qual os atos tendem a se consolidar ao estilo das "manifs" parisienses, um elemento perene do ambiente urbano.
Mais do que isso, o número que realmente importa neste fim de semana para o governo não é o de contagens feitas nas ruas. É o do Datafolha que mostrou uma estabilização da rejeição ao governo, além de comprovar que muito mais gente do que foi visto na avenida Paulista no domingo está a defender o impeachment de Dilma.
Novamente a lógica do copo se impõe para fins de discurso. Um otimista governista dirá que a popularidade de Dilma parou de cair e que o Planalto tem, a partir da reformulação de sua articulação política com o vice Michel Temer, espaço para tentar melhorar sua agenda pública.
Para o pessimista governista (ou um otimista oposicionista), qualquer governo com níveis de rejeição registrados pelo de Dilma não tem motivos para dormir bem à noite.
No registro do real, é notável que, se alcançar algum nível de governabilidade no Congresso, isso não resolve o problema da paralisia econômica do país ou dos investimentos engessados.
No meio do caminho, onde geralmente a realidade se encontra, o domingo trouxe algum respiro ao Planalto e mostrou uma oposição reticente para empunhar de fato bandeiras ainda incertas, dadas as condições políticas objetivas: estamos hoje mais num parlamentarismo branco comandado pelo PMDB do que à beira do impeachment de Dilma --e consequente unção da oposição.
Mas o alívio está longe de ser profundo o suficiente para ser decretada a moratória da crise.
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