• Mercadante deixa comitiva de viagem aos EUA para se defender no Brasil
• Presidente reclama de 'vazamento seletivo' em reunião, e petistas negam ter recebido contribuições ilegais
Andréia Sadi, Aguirre Talento e Natuza Nery – Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - As revelações do empresário Ricardo Pessoa sobre suas doações à campanha de Dilma Rousseff em 2014 fizeram a presidente convocar a segunda reunião de emergência em menos de 24 horas e escalar três ministros para defender o governo no sábado (27).
Dono da empreiteira UTC, Pessoa doou R$ 7,5 milhões para a campanha de Dilma no ano passado e disse aos procuradores da Operação Lava Jato que fez as contribuições por temer prejuízos em negócios com a Petrobras.
Como a Folha revelou em maio, Pessoa negociou as doações com o então tesoureiro da campanha petista, Edinho Silva, hoje ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social. Novos detalhes sobre os depoimentos de Pessoa aos procuradores foram revelados pela revista "Veja" na edição que começou a circular neste sábado.
O ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, principal auxiliar de Dilma, deixou a comitiva que voou com a presidente para os Estados Unidos e ficou no Brasil para rebater as acusações do empreiteiro.
Em 2010, quando concorreu ao governo do Estado de São Paulo, Mercadante declarou à Justiça Eleitoral duas doações de empresas de Pessoa, no valor total de R$ 500 mil. A Folha revelou na sexta (26) que ele foi citado por Pessoa em seus depoimentos.
"Tenho, como homem público, obrigação de prestar esclarecimentos. Quem não deve não teme", afirmou Mercadante em entrevista neste sábado. Ele afirmou que a presidente também tem interesse em falar do assunto.
Dilma adiou seu embarque para a visita oficial aos EUA na manhã de sábado e chamou Mercadante, Edinho e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, para uma reunião. Antes do encontro com os auxiliares, andou de bicicleta com a filha, Paula.
Na reunião, Dilma se disse "indignada" e afirmou que houve um "vazamento seletivo" dos depoimentos de Pessoa, com o objetivo de criminalizar as doações feitas à sua campanha e desestabilizar o governo.
Segundo um ministro ouvido pela Folha, a presidente queixou-se do fato de que políticos adversários também receberam doações da UTC e não foram mencionados, e citou o senador Aécio Neves (PSDB-MG), seu adversário na corrida presidencial de 2014.
Encerrada a reunião, Cardozo e Edinho deram entrevista para rebater as acusações de Pessoa. Bastante irritado, Edinho se disse "indignado" e afirmou que "causa estranheza" que só as doações à campanha de Dilma sejam colocadas em suspeição.
Impeachment
Pessoa fez acordo com a Procuradoria-Geral da República para colaborar com as investigações da Operação Lava Jato em troca de uma pena menor. Ele confessou ter pago propina ao PT e a outros partidos para facilitar seus negócios com a Petrobras.
Líderes do DEM e do PPS, siglas que fazem oposição ao governo Dilma, voltaram a defender a abertura de um processo de impeachment pela Câmara, para afastar a presidente do cargo e investigá-la. "Não há fundamento legal para isso", rebateu Edinho.
O ministro admitiu que se encontrou com Pessoa para discutir sua contribuição à campanha de Dilma, mas negou ter feito qualquer ameaça ao empreiteiro. Edinho disse que esteve com ele três vezes durante a campanha.
Em sua entrevista, concedida separadamente, Mercadante também descartou "base jurídica para impeachment" e voltou a negar que tenha recebido recursos repassados ilegalmente pela UTC na campanha de 2010.
"É só entrar [na Justiça Eleitoral] e estão lá as duas doações, o que mostra que as duas contribuições foram legais, oficializadas", afirmou.
Mercadante admitiu que se reuniu com Pessoa durante a campanha de 2010. "Houve uma reunião na minha casa", disse. "Ele revelou que poderia contribuir para a minha campanha e eu agradeci", acrescentou.
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