• O ex-presidente, ao criticar Dilma e o PT, precisa esclarecer que está fazendo uma autocrítica, dada a sua vinculação à presidente e, mais ainda, ao partido
Lula já parafraseou o roqueiro Raul Seixas e se declarou uma “metamorfose ambulante”. Nos últimos dias, em duas ocasiões, deu provas disso, ao disparar ácidas críticas contra o governo Dilma e o próprio PT. A primeira foi na quinta-feira, num encontro com padres e dirigentes religiosos, em que reconheceu, numa referência ao nível baixo do sistema da Cantareira: “Dilma está no volume morto, o PT está abaixo do volume morto, e eu estou no volume morto”, revelou O GLOBO.
No domingo, na “Folha de S.Paulo”, o Datafolha confirmaria que a rejeição a Dilma chegara a 65%, índice equivalente ao de Collor antes do impeachment; e que, numa eleição presidencial hoje, Lula, com 25% dos votos, perderia para Aécio, com 35%. Ou seja, Lula dera mais uma demonstração de sensibilidade política.
Na segunda-feira, o Lula metamorfoseado atacou o PT. Em debate que promoveu em seu instituto com o ex-presidente do governo espanhol Felipe Gonzales, Lula investiu contra a legenda cuja fundação liderou há 35 anos: “O PT está velho.” E foi ainda mais cáustico, ao dizer que o partido, burocratizado, “só pensa em cargos”.
Há informações de que o Palácio não recebeu bem as estocadas. E teria sido comentado, com pertinência, que, se ele tem plano de tentar retornar ao Planalto em 2018, é um erro bombardear Dilma, devido à extrema dificuldade de o criador se desvincular da sua criatura.
Ao tentar se afastar do até agora fracassado governo, Lula procura se converter numa espécie de analista distanciado de uma realidade da qual é parte indissociável. Missão impossível.
Ora, a busca por cargos e o consequente aparelhamento da máquina pública floresceram em seus dois mandatos. Quando assumiu em 2003, havia 18 mil cargos de confiança na máquina federal. Ao passar a faixa para Dilma, em 2011, já eram pouco mais de 20 mil. Isso sem considerar o inchaço das estatais. Lula é, ainda, o patrono do toma lá da cá do fisiologismo, para barganhar cargos em ministérios em troca de apoio parlamentar. O método foi estendido para o governo Dilma.
No primeiro mandato dela, Lula colocou Antonio Palocci na Casa Civil e manteve Gilberto Carvalho em Palácio, bem como os esquemas fisiológicos. Dilma ensaiou uma "limpeza ética", mas depois teve de recuar, devolvendo, por exemplo, o Ministério dos Transportes ao PR, e assim por diante. Tudo isso sem falar no escandaloso esquema lulopetista montado na Petrobras, razão de nomes ilustres serem encarcerados.
A própria política ruinosa do "novo marco econômico" começou a ser engendrada pela ministra Dilma Rousseff na Casa Civil, no final do seu primeiro mandato, quando ela rechaçou a contenção dos gastos públicos proposta por Palocci e Paulo Bernardo, por considerá-la "rudimentar".
Lula já deu incontáveis demonstrações de sagacidade e esperteza. Mas, ao criticar a gestão Dilma e o PT, melhor esclarecer de que se trata mesmo de uma autocrítica.
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