• Na Rússia, a presidente disse que não há nenhuma garantia para que o senador tucano prejulgue ações do TCU e TSE
Maria Lima – O Globo
BRASÍLIA - Em resposta às declarações de Dilma Rousseff nesta quinta-feira na Rússia, o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), acusou-a de faltar com a verdade na frente de outros chefes de Estado e a desafiou a provar que ele, como presidente do PSDB, tenha dado qualquer declaração que não fosse de respeito à Constituição e soberania das instituições. Aécio repetiu várias vezes que Dilma está fora de si e que é preciso ter serenidade e concentrar forças para se defender das inúmeras acusações que ela e o PT enfrentam no Ministério Público, Justiça Eleitoral e Tribunal de Contas da União (TCU).
— É absolutamente inacreditável a desconexão da presidente Dilma da realidade. A que ponto chegou a presidente da República! Mesmo saindo do Brasil, ela se sente acuada, perseguida pelos fatos e pela incerteza em relação ao seu próprio futuro. Não somos nós da oposição que vamos decidir o que vai acontecer. Não é obra nossa, a oposição não é golpista. Depende mais dela e do povo brasileiro. O que não podemos permitir é que a Justiça, o Ministério Público, a Polícia Federal e outras instituições sejam constrangidos por ações do seu governo — rebateu Aécio.
O tucano disse que talvez a saída menos traumática fosse que Dilma cumprisse seu mandato até o fim, mas os fatos que se sucedem é que geram uma enorme incerteza. Aécio começou o discurso da tribuna do Senado dizendo que a presidente tinha usado a reunião dos BRICs, na Rússia, para brindá-lo com considerações “mais uma vez fora da realidade”. Disse que num momento de crise, quando o Brasil precisa de uma integração maior com aqueles países, o que se viu “mais uma vez” foi a presidente do Brasil num comportamento distante dos interesses do país.
— Vou tentar traduzir, porque nem sempre á fácil entender — começou Aécio, ao ler as declarações de Dilma, em que ela diz que ele nem nenhum senador pode prejulgar o que vai decidir o TCU ou TSE em relação as suas contas e acusações de que sua campanha foi beneficiada por recursos do petrolão.
— Não fizemos aqui prejulgamentos. O que disse é que ninguém nesse país, inclusive a presidente da República, está acima das instituições. Por isso cumpriremos nosso papel constitucional de garantir que, apesar do desastre do seu governo, o Brasil possa se reencontrar com o seu futuro — disse Aécio.
Acusando Dilma de tentar buscar “factóides” sobre o que não é verdadeiro, Aécio repetiu o teor de seus discursos dos últimos dias - chamados de tentativa de golpe pelos governistas - em que destaca a necessidade de que todos sejam guardiões da Constituição e das instituições.
— Eu tenho dito em todos os momentos: vamos permitir que o TCU e o TSE cumpram a sua função constitucional, que pode aprovar ou reprovar, não há julgamento feito ainda. Por outro lado, que o TSE e o TCU, cumprindo seu papel de guardiães da Constituição — disse Aécio, lembrando que deputados da bancada do PT disseram que a Polícia Federal tem de se submeter ao governo, que tem os votos.
Aécio enumerou casos em que instituições como o IBGE e Ipea foram obrigados a esconder dados negativos sobre aumento da miséria extrema durante a campanha de 2014, para não contrariar ordens do governo, sob alegação de que contrariam a legislação eleitoral.
— O depoimento de dirigentes do Ipea e IBGE provam aquela máxima de que na eleição fariam o diabo, inclusive escamotear dados oficiais mostrando o aumento da pobreza extrema. Naquele momento a população foi impedida de saber disso — disse Aécio.
O presidente do PSDB disse que Dilma perdeu a oportunidade, hoje, de comentar lá na Rússia o bloqueio dos bens de 20 dirigentes do fundo de pensão Postalis nomeados por ela; da taxa de desemprego de 8,1% a maior da Pnud continua divulgada hoje ; e que 50% das empresas brasileiras estão demitindo.
— È disso que a presidente Dilma deveria falar. Olhar para os brasileiros e dizer que falhou. É triste ver a presidente, diante de outros chefes de estado, faltando com a verdade — completou.
Falando na tribuna logo após o discurso de Aécio, o líder do PT, senador Humberto Costa (PE) avisou que não trataria do tema do discurso e sim do sucesso do programa Mais Médicos.
— Não vou falar desse tema porque já tratei aqui do golpismo. Mas demonstram que o golpe foi sentido e precisam agora ficar justificando que não pregam golpismo — disse Humberto Costa.
— Fale senador Humberto! Não fuja do debate — desafiou o líder do PSDB, senador Cássio Cunha Lima (PE), mas Costa encerrou o assunto.
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