- O Globo
A instabilidade da China piorou o que já estava ruim. A Grécia tem datas fatais nos próximos dias, em meio a dúvidas sobre o reflexo na economia europeia. O Brasil, que criou sua própria crise, agora terá que sair dela em ambiente internacional hostil. A inflação se aproxima de 9%, o desemprego está em 8,1%, o FMI piorou sua previsão para o nosso PIB, para recessão de 1,5% este ano.
O clima em relação à China melhorou ontem porque a Bolsa de Xangai subiu 5,7%, recuperando-se do tombo da véspera, mas tanto os números de alta quanto os de queda mostram que há algo muito errado com o mercado chinês. Subiu 150% em um ano, caiu 30% em um mês, com redução de 8% em um só dia. A volatilidade nunca é um bom sinal. O governo inflou a bolha com medidas de incentivo, desinflou com a limitação à compra financiada de ações, e ontem entrou comprando e proibindo os investidores de venderem ações. A China está resolvendo distorções com medidas artificiais.
A Grécia terá que passar nos próximos dias por uma série de testes e datas fatais, diante de uma Europa reunida para lidar com o país de 11 milhões de habitantes. O economista e consultor Alexandre Schwartsman acha que a dívida é impagável, e o país não tem condições concretas de permanecer na zona do euro. O professor de economia política internacional da UFRJ Franklin Trein lembra que o artigo 50 da constituição da União Europeia não permite a expulsão de um país e nem a zona do euro prevê esse instrumento. Ela sairá se quiser. É sobre esse impasse que a Europa se debruçará na reunião de cúpula neste fim de semana, com os grandes países divididos sobre a melhor estratégia para lidar com o pequeno superendividado que rejeitou os termos da negociação oferecida pelos credores.
O mundo havia melhorado da crise que o abateu em 2008, a economia americana voltou a crescer. A situação estava mais propícia até alguns meses atrás, e o governo brasileiro, em vez de aproveitar o ambiente, cavou a própria crise. Contratou uma inflação reprimida, que está sendo corrigida em 2015. Tentou estimular a economia, mas só aumentou o déficit, elevando a desconfiança. Agora tenta fazer ajuste fiscal, com quase 8% do PIB de déficit nominal, no meio de uma crise política, mas só colhe do Congresso novos aumentos de gastos.
O FMI reduziu em meio ponto a previsão de crescimento para o Brasil este ano, em relação ao cálculo que havia feito em abril. Foi de -1% para -1,5%. Para o ano que vem, cortou de 1% para 0,7%. O país é citado como uma das causas para o corte na projeção de crescimento mundial, de 3,5% para 3,3%, ao lado de países exportadores de petróleo e da América Latina, afetados pela queda dos preços internacionais das matérias-primas.
Se a taxa de 3,3% para este ano e de 3,8% para o ano que vem não chega a ser brilhante para o PIB mundial, também não é um número baixo. O Brasil não tem nenhuma expectativa de voltar a crescer nessa intensidade nos próximos anos.
Esta semana, dois números que saíram preocupam muito: inflação de junho e desemprego pela Pnad Contínua do trimestre que acabou em maio. A inflação de junho foi de 0,79% Esse mês é naturalmente de índice baixo. Normalmente, junho, julho e agosto são os de taxas mais baixas. Junho chegou negando essa tradição. A inflação está, em seis meses, perto do teto da meta. O grande desafio é evitar que a taxa acumulada chegue a dois dígitos. No nível em que está, o risco de indexação é grande.
As previsões dos economistas são de redução forte do índice de preços no ano que vem, para números em torno de 5%. Eles calculam que o grande choque deste ano veio da tarifa de energia e que isso não se repetirá em 2016. Tomara que estejam certos desta vez, porque no Boletim Focus de 9 de janeiro a mediana das previsões estava em 6,6% para 2015, e agora as mesmas projeções estão em 9,04%. Eles têm errado muito nos últimos anos por projetarem cenários melhores do que os que se confirmam.
O desemprego pela Pnad chegou a 8,1% na pesquisa mais ampla que compila dados de todo o Brasil. Isso significa que 8,2 milhões de pessoas estão desempregadas, um número 18% maior que no mesmo período do ano passado. Não é um bom momento para enfrentar uma crise externa.
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