Cristian Klein - Valor Econômico
RIO - Se o PMDB romperá com o governo Dilma Rousseff ou se terá candidato à Presidência em 2018, isso ainda é uma incógnita. Mas políticos do partido voltam suas atenções para o Rio de Janeiro, onde se reúnem hoje e amanhã, num grande encontro promovido pelo prefeito Eduardo Paes - cotado como presidenciável da legenda. Será a confluência da agenda positiva, representada pela Olimpíada, com boa parte dos protagonistas da crise que atinge o Planalto.
Uma comitiva com mais de 40 deputados federais - de uma bancada total em exercício de 67 - visita a cidade para conhecer obras da Olimpíada de 2016, como o Parque Olímpico e o Porto Maravilha. Esse é o motivo oficial. Mas é em jantar hoje, na Gávea Pequena, residência oficial do prefeito, que os pemedebistas pretendem estreitar laços com Paes e discutir os rumos do partido em meio à turbulência política que abala o governo federal. O encontro deve reunir quase cem pessoas: deputados (entre os quais o presidente da Câmara, Eduardo Cunha) e acompanhantes, ministros do PMDB - à exceção de Kátia Abreu (Agricultura), em viagem com Dilma à Itália - e o vice-presidente da República, Michel Temer.
A palavra "aproximação" e assemelhadas se destacam na fala dos deputados, quando questionados sobre o significado político da comitiva. "É uma oportunidade de estreitar as relações, do Paes com os parlamentares e vice-versa. E a chance de os deputados conhecerem algo no qual o PMDB está tendo sucesso", afirma o líder da bancada na Câmara, Leonardo Picciani.
Paes é o anfitrião, mas no delicado equilíbrio entre os caciques do PMDB fluminense, assina o convite em conjunto com o deputado. Leonardo é filho do presidente do diretório estadual, Jorge Picciani, também presidente da Assembleia Legislativa. Para o pai, o encontro é uma espécie de "prestação de contas" do prefeito, já que Câmara e Senado "contribuíram muito" com a aprovação de projetos ligados à Olimpíada.
O deputado Danilo Forte, do Ceará, conta que esteve com Eduardo Paes, em fevereiro, quando sugeriu a visita dos parlamentares e o prefeito ficou de "matutar". "A Olimpíada não é só do Rio, é do Brasil", defende. No mês passado, Forte conversou com Leonardo Picciani, que reforçou a ideia com o prefeito. "Foi uma sugestão que eu fiz a ele. A Olimpíada deve ser entendida como uma marca do PMDB, e lógico que o prefeito é o capitão", afirma Leonardo.
Com a vinda dos parlamentares, Paes tem a oportunidade de mostrar a força de sua gestão e capitalizar seu nome como presidenciável. Mas também é levado a compartilhar os frutos de uma agenda positiva com correligionários enredados na luta política no cenário nacional. Uma segunda comitiva, com a bancada de senadores do PMDB, deve ser organizada em breve. Nesta ocasião, o convite será feito em nome do prefeito, do governador Luiz Fernando Pezão e de seu antecessor no Palácio Guanabara, Sérgio Cabral, que tem evitado exposição pública depois de concluir o mandato com baixa popularidade. Os três - além de Jorge Picciani e Eduardo Cunha - formam o quinteto de caciques do PMDB fluminense, a seção estadual mais forte do partido.
Oficialmente, a Prefeitura do Rio considera as viagens de parlamentares no contexto de outras já realizadas para conhecer obras da Olimpíada, como a dos integrantes da Comissão do Esporte da Câmara, em abril. A postura faz parte do esforço de evitar um envolvimento maior com o debate de questões nacionais. O rompimento com o governo Dilma, assunto que está na ordem do dia do PMDB, não convém a Paes, já que o apoio da administração federal é peça-chave na organização da Olimpíada.
Danilo Forte, no entanto, inclui o tema entre os "eixos" das conversas no Rio, ao lado do pacto federativo. O deputado usa a expressão "possibilidade de alternância do poder" ao se referir à chance de Dilma Rousseff ser afastada do cargo. "Tá na boca de todo mundo, de todos os segmentos, de AAA a EEE", diz.
Mas antes de debater impeachment ou candidatura do partido à Presidência, o parlamentar afirma que é preciso "primeiro, discutir a transição deste governo" - ou seja, o desembarque do PMDB.
A viagem ao Rio é vista como oportunidade de contato mais aprofundado com Paes e de entender como o prefeito consegue viabilizar a equação das obras num momento de crise econômica e de empreiteiras envolvidas no escândalo de corrupção da Operação Lava-Jato. "No PMDB, não temos muita interação entre nós mesmos, exceto em Brasília e em eventos da bancada. Vai ser bom até para ele [Paes] conhecer o desafio [da candidatura], que é o tamanho do Brasil, já que receberá deputados do Acre ao Rio Grande do Sul. O país é muito diferenciado. E o Eduardo ainda é muito ligado ao Rio", afirma o deputado, que faz questão de lembrar que cada parlamentar pagará sua passagem e o diretório do Rio arcará com a hospedagem.
O deputado Baleia Rossi, presidente do diretório paulista, afirma que a viagem servirá para a "aproximação" de Paes com a bancada. "Ele tem pouco contato com os parlamentares. Nós temos uma certa noção do que está acontecendo, mas eu, por exemplo, tem tempo que não vou ao Rio. Ainda não vi as transformações na cidade", diz Rossi, para quem a presença de Michel Temer é importante no encontro pois mostra a unidade do partido.
Um deputado do Nordeste, que preferiu não se identificar, vê na ida da comitiva de parlamentares ao Rio a criação de um fato político para bater bumbo pela candidatura de Paes à Presidência. "Não precisa ser especialista para ver que a intenção é essa, criar um fato político. Ele vai fazer uma média com a bancada, vai ser agradável, generoso, mostrar que é um cara legal, para que isso chegue em outros cantos do Brasil", diz o parlamentar, embora não acredite na viabilidade da candidatura do prefeito ao Planalto.
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