- Folha de S. Paulo
A presidente Dilma Rousseff terá que fazer concessões à esquerda se quiser mobilizar os movimentos sociais em defesa de seu mandato. O recado tem sido repetido a ministros petistas e ao ex-presidente Lula em conversas reservadas sobre o agravamento da crise.
Acuada pela oposição oficial e pelo PMDB, Dilma agora enfrenta a pressão de aliados históricos do PT para abandonar o ajuste fiscal. Na prática, a esquerda quer trocar o apoio nas ruas pela cabeça do ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
"O governo está muito fraco e precisa mais do que nunca das ruas para resistir ao golpe. Mas não podemos defender um governo que está ficando indefensável por causa dessa política econômica", afirma Guilherme Boulos, principal líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto.
O ativista ficou contrariado ao saber que a presidente prepara medidas para ampliar o ajuste, como ela contou à Folha. "A crise se agravou, e a reação da Dilma é dizer que vai aprofundar ainda mais o ajuste. Isso cria dificuldade para os movimentos que estão dispostos a enfrentar a ofensiva golpista", diz Boulos.
Apesar das críticas, ele articula um ato de "resposta à direita" para 20 de agosto, quatro dias depois dos protestos convocados por grupos anti-Dilma. "Será uma grande mobilização contra o golpismo, o Eduardo Cunha e a ofensiva conservadora, mas também contra a política econômica", ressalta o líder do MTST.
Próximo ao ex-presidente Lula, o senador petista Lindbergh Farias reforça a pressão. "O governo tem que parar de atirar na própria base. Quem pode defender Dilma contra o golpe são os movimentos sociais e o Lula. O que a gente quer é que o governo pare de atrapalhar", afirma.
A tese da guinada à esquerda seduz cada vez mais petistas, mas embute altos riscos. Se desistir do ajuste, Dilma pode perder o apoio que lhe resta no PMDB e engajar setores do empresariado e do mercado financeiro no movimento pró-impeachment.
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