• Alckmin adota tom brando, mas diz que "oposição é necessária"
Cristiane Jungblut, Chico de Gois e Fernanda Krakovics – O Globo
BRASÍLIA - Depois de a presidente Dilma Rousseff chamar setores da oposição de "golpistas", o presidente da República em exercício Michel Temer baixou ontem o tom do conflito entre governo e oposição. O vice de Dilma disse que "não vale a pena" levar adiante essa discussão e, num aceno aos partidos adversários, defendeu "uma grande unidade nacional".
- Devemos pensar no Brasil. A oposição existe também para ajudar a governar, mesmo quando critica. Temos que fazer uma grande unidade nacional, mais do que nunca é necessário o pensamento conjugado dos vários setores da nacionalidade, portanto, dos vários partidos políticos, para que caminhemos juntos em beneficio do Brasil. Não vale a pena levar adiante essas discussões - disse Temer.
"É patriótico ser oposição"
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), adotou tom mais brando que o adotado por ele mesmo na convenção do PSDB, no último domingo. Ele negou que a oposição seja golpista e afirmou ela é necessária ao país.
- A oposição é necessária. É tão patriótico ser governo como ser oposição - afirmou.
Alckmin disse que caberá a Dilma dar as explicações cabíveis sobre as pedaladas fiscais que foram criticadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e podem servir como mote para que o órgão sugira a rejeição das contas da petista:
- Nós somos cumpridores da Constituição. Cada um fazendo a sua parte. Quem tem que investigar, investiga; quem tem que prestar contas, presta contas; quem tem que decidir, decide. Nosso compromisso tem que ser com a Constituição.
Segundo Alckmin, a cada dia aparecem fatos novos:
- Cabe à presidente se pronunciar e se explicar.
Porém, ao ser perguntado diretamente sobre um eventual impeachment, o governador de São Paulo foi evasivo:
- Num governo parlamentarista, o governo já tinha sido mudado. Não tem confiança, substitui o primeiro-ministro. No modelo presidencialista não é assim, tem mandato. Só se pode interromper o mandato com crime de responsabilidade, como está previsto na Constituição. Tem que se investigar, dar o direito de defesa para o governo se explicar. Vamos aguardar o desenrolar dos fatos para poder pensarmos de forma adequada.
Elogios de Aécio
Alckmin compareceu para uma audiência pública na Comissão de Infraestrutura do Senado motivado por um convite do senador Fernando Bezerra (PSB-PE) para falar sobre a crise hídrica. Bezerra, que foi ministro da Integração Nacional no primeiro mandato de Dilma, disse que Alckmin pode contribuir para reduzir a crise política.
- A presença massiva de parlamentares aqui justifica a identificação da liderança do governador de São Paulo como uma voz serena e lúcida, para que o Brasil possa atravessar esse momento - elogiou Bezerra.
O senador Aécio Neves (PSDB-MG) chegou no fim da sessão da comissão e fez um elogio ao governador paulista.
- O partido tem um orgulho enorme de sua trajetória e certamente Vossa Excelência alcançará voos maiores - disse.
Já fora da comissão, Aécio voltou a criticar a presidente, afirmando que ela cometeu um "erro político primário" ao dar declarações públicas de que não vai cair.
- O que vejo é uma presidente acuada, fragilizada. Uma presidente que vem a público para dizer que não vai cair é uma presidente que não se sente segura no cargo. Isso é algo primário na política.
Aécio disse que o PT precisa entender que o Brasil "vive a plenitude do estado de direito, onde as regras valem para todos".
- O Brasil tem um cronograma político-eleitoral que está aí para ser cumprido, com novas eleições em 2018. Isso não exime quem quer que seja, nem a presidente da República, de prestar contas dos seus atos. Não há possibilidade de nenhuma alternativa que não seja dentro do cumprimento da Constituição.
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