Correio Braziliense
• A presidente da República estaria dando sinais de esgotamento nervoso, devido ao stress da carga de trabalho e à irritabilidade provocada pelo regime de emagrecimento ao qual vem se submetendo
A avaliação dos políticos governistas às declarações da presidente Dilma Rousseff sobre o impeachment, assunto da coluna de ontem, também não foi nada boa para o Palácio do Planalto. Segundo os aliados, gerou especulações de que a presidente da República não tem uma estratégia para enfrentar as articulações da oposição contra sua permanência no governo, provocou mais incertezas do que segurança nos agentes econômicos e transformou uma tese dos bastidores da política num assunto de conversa de botequins e padarias: a possibilidade de que venha a ser afastada do cargo pela Justiça ou pelo Congresso.
Entre ministros e assessores palacianos, indagava-se o por que de a presidente da República não preparar sua entrevista. Dilma tratou do assunto de forma muito restrita, sem consultar seu estado-maior. O resultado foi uma espécie de desabafo, legítimo diante das acusações de que sua campanha à reeleição teria recebido dinheiro desviado da Petrobras.
Mas a situação em que se encontra — grande desaprovação popular, economia ladeira abaixo e falta de governabilidade — exigia mais do que isso. Ao não fazer uma análise lúcida da situação política nem apresentar alternativas animadoras para a economia, Dilma, mais uma vez, não conseguiu construir um raciocínio lógico, com começo, meio e fim, sobre o momento que o país vive. A presidente da República já se expressou melhor em público e, também, nas entrevistas exclusivas.
Na linguagem popular, Dilma não estaria juntando lé com cré. Para alguns, a presidente da República dá sinais de esgotamento nervoso, devido ao stress da carga de trabalho e à irritabilidade provocada pelo regime de emagrecimento ao qual vem se submetendo. Suspeita-se de que esteja sob efeito de remédios. Medicamentos para emagrecer estão entre os mais usados do mundo. A maioria das pessoas não consegue emagrecer por conta própria — são “emagrecidas”.
Irritabilidade, estresse, insônia, memória fraca, dificuldade de concentração, ansiedade, palpitações e suores frios são sintomas que podem surgir em momentos de grande estresse e durar vários dias. Alguns desses sintomas, porém, são traços do comportamento da presidente da República já conhecidos de seus colaboradores — a irritação, por exemplo —, mas a dificuldade de concentração e concatenação de ideias vem sendo recorrente nas entrevistas, embora Dilma, com suas pedaladas, também tenha aparentado certo alheamento em relação à crise.
Ao contrário do que ocorreu na viagem aos Estados Unidos, na qual as denúncias da Operação Lava-Jato entraram na pauta como intrometidas, no encontro com o presidente Vladimir Putin, ontem, em Ufa, a mil quilômetros de Moscou, o único incidente foi um atraso de cinco minutos de Dilma, nos quais o anfitrião ficou esperando a colega brasileira em público. A fala de Dilma, porém, foi comedida e não tratou de política; apenas da economia.
Líderes das duas únicas economias do Brics (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) que não crescerão neste ano, Dilma e Putin precisam ampliar o comércio bilateral. E esse foi o único tema da conversa presenciada por jornalistas. “Temos grande interesse em ampliar nosso investimento recíproco”, disse Dilma, que pretende atrair empresas russas de portos e ferrovias para o programa de investimentos em infraestrutura lançado no mês passado.
Nova derrota
Com Dilma no exterior e Michel Temer no exercício da Presidência, o governo sofreu nova derrota política ontem, desta vez no Senado, que aprovou a medida provisória que mantém as atuais regras de reajuste do salário mínimo para o período de 2016 a 2019. O reajuste é calculado pela soma da variação da inflação (INPC) e do Produto Interno Bruto (PIB).
Governistas tentaram aprovar uma emenda que faria com que o texto voltasse à Câmara, mas a mudança foi rejeitada. Não poderá haver mudanças no mérito. A novidade no texto aprovado no Congresso em relação ao original feito pelo Executivo é a extensão dos reajustes aos benefícios de valor superior a um salário mínimo pagos pela Previdência Social (aposentadorias e pensões). Essa mudança foi feita na Câmara, depois de a comissão mista que analisou o texto ter rejeitado várias emendas com esse objetivo. O governo é contra esse reajuste.
O senador Paulo Paim (PT-RS) questionou se era justo deixar de ter uma política para reajustar os benefícios de quem ganha acima de um salário mínimo. “Se não houver uma política salarial que garanta que o benefício do aposentado cresça, no mínimo, o correspondente ao salário mínimo, com certeza, ligeirinho, ligeirinho, todos os aposentados do regime geral ganharão somente um salário mínimo, não importando se pagaram sobre 10, cinco, oito ou três”, argumentou. Votou com a oposição.
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