- O Estado de S. Paulo
Como na vida, tem coisa boa e coisa ruim na evolução do IPCA, ontem divulgada.
Antes disso, alguns números: a inflação de junho foi de 0,79% (maio, 0,74%) e no primeiro semestre, 6,17% (3,75% em 2014).
De bom, há a relativamente baixa inflação de alimentos e bebidas (0,63%, contra 1,37% em maio), fator que ajudou a segurar a inflação do mês e indica certo recuo para os meses seguintes. Também vai ficando claro que o impacto dos reajustes dos preços administrados (tarifaços), que descarregaram a pressão que havia sido acumulada ao longo de 2014 pelo governo Dilma, já deu quase tudo o que tinha de dar. Ainda há uma ponta de estoque a desovar, principalmente nos reajustes dos combustíveis e alguma coisa nas tarifas de energia elétrica, mas o grosso desse ajuste está feito.
De ruim nessa narrativa é o salto da inflação medida em 12 meses. Em junho, chegou aos 8,89%, o mais alto desde 2003 e, em julho, deverá avançar para além dos 9,00%. Fácil de entender por que: a inflação de julho do ano passado, que vai sair do cálculo da evolução em 12 meses, foi de apenas 0,01% e a que vai entrar será de pelo menos 0,43%, a julgar pelos prognósticos da Pesquisa Focus.
É fator negativo, na medida em que a economia brasileira ainda trabalha com reajustes pela inflação passada (indexação). Esses nove por cento e quebrados serão descarregados sobre os reajustes salariais e, um pouco mais ou pouco menos, para o restante dos preços. Em todo o caso, dá para dizer que a cumieira da inflação em 12 meses está para ser atingida. A partir de agosto, provavelmente começa a cair - se nenhuma surpresa ruim aparecer. Entre os focos de surpresa ruim pode estar nova alta do dólar em reais, c0nsequência do preocupante desempenho da economia da China. Se o câmbio interno voltar a pressionar os preços internos dos produtos importados - derivados do petróleo entre eles -, não fica descartada nova estocada nos preços.
No mais, a inflação continua espalhada demais. Nada menos que 68% dos itens que compõem a cesta de consumo apresentaram alta em junho. É um índice de difusão mais baixo do que o de maio (70%), mas, ainda assim, muito alto. Indica que nem tudo é obra das remarcações dos preços administrados.
Na lógica do Banco Central há um saldo de inflação de demanda a ser atacado por meio da política monetária (política de juros).
Alguns analistas se arriscam a apostar em que o Banco Central começará a reduzir a dose da alta dos juros, de meio ponto porcentual por vez, para apenas um quarto. Hoje, os juros básicos (Selic) estão nos 13,75% ao ano. Mas esse corte é mais torcida de que seja assim do que tendência firme.
Mais provável é que, na sua reunião marcada para o dia 29 deste mês, o Copom continue cravando alta de 0,5 ponto porcentual e se prepare para reduzir a dose nas duas reuniões seguintes, para só então dar a parada esperada e começar a baixar os juros nos primeiros meses de 2016.
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