- O Estado de S. Paulo
Por falta de opção melhor, a Grécia hoje está sob intervenção mais ou menos consentida. Gomo é necessário transpor para o varejo as decisões tomadas no atacado, é preciso perguntar até que ponto isso vai funcionar.
Mas já há algumas observações a fazer. Uma delas tem á ver com a questão da unidade política (e fiscal). O euro opera sem mecanismos institucionais que assegurem a unidade de um conjunto de países diferentes entre si, que rodam a velocidades também diferentes. Não se pode atrelar dois bois e dois cavalos a uma mesma quadriga. O resultado não pode ser bom.
Depois de 13 anos de funcionamento do bloco, as diferenças econômicas aumentaram. A enorme disparidade de volume e de qualidade, tanto de arrecadação quanto de despesa, sabotou as condições de funcionamento da área monetária que já não era ótima, como pedia desde a década de 60 o economista canadense Robert Mundell A intervenção agora imposta à Grécia parece ter sido o jeito encontrado pela cúpula do euro para enquadrar um membro relapso. Se essa experiência, que não deixa de ser traumática, se tornará ou não fator destinado a apressar o processo de unificação fiscal e política é coisa que ainda terá de se ver. Mas parece claro que o caso da Grécia, hoje sob comando do primeiro-ministro Alexis Tsipras (foto), demonstra que há limites para a existência e o alargamento de disparidades dentro do bloco.
Outra conclusão é a de que, uma vez incorporado a uma união monetária (ainda que imperfeita como a do euro), qualquer membro terá muita dificuldade para deixá-la. O retorno a uma moeda nacional não pode ser feito de um dia para o outro. O processo requer debates nos parlamentos para aprovação de um arcabouço legal da nova moeda. E como essas trocas não acontecem em condições de paridade, mas implicam valorização, produzem brutal redução de salários, aposentadorias, do valor das propriedades e das aplicações financeiras. (Enormes transferências de riqueza, só que em sentido inverso, aconteceriam também se a Alemanha resolvesse abandonar o euro e reintroduzir o marco.)
Alguém poderia observar: o Brasil não passou por isso tantas vezes e, no entanto, sobreviveu. Por que a economia grega não sobreviveria?
É bem diferente uma troca de moedas quando uma delas deixa de existir como aconteceu por aqui na substituição do cruzeiro pelo cruzeiro novo ou do cruzeiro real para o real. Na hipótese do retorno da dracma à Grécia, o euro continuaria como moeda comum do resto do bloco. Faria parte da memória do grego e continuaria a ser medida de valor. A sensação de empobrecimento seria cruel.
Para evitar acordar dias depois com seu dinheiro derretido nos seus bancos, os gregos correram para sacar o que podiam. Daí por que passou a ser necessário controlar o fluxo de capitais e limitar ao mínimo as retiradas. Bancos fechados, por sua vez, produzem o colapso do sistema de pagamentos. Assim, fica impossível de arrecadar e as contas públicas tendem à desagregação.
Por essas e outras razões, o atual processo na área do euro é de grande valia para entender o que pode acontecer quando uma união monetária defeituosa como a do euro entra em crise.
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